terça-feira, 31 de março de 2009

Anistia

Hoje, caminhando de volta do trabalho pelas ruazinhas de Jerusalem, um pouco cansada, fui sentindo uma alegria enorme por estar aqui. Vendo as casas, os jardins, pequeninas, grandes, as pessoas de bicicleta na rua, tomando cafe andando e fui pensando em como no Brasil eh tudo ao contrario daqui. Aqui a gente nao daria nada pelas fachadas das casas ou apartamentos e em cada casa que voce entra, ha jardins bem cuidados, flores, conforto, tudo de primeira qualidade, melhor dizendo, efetivamente, ha qualidade de vida. Aqui se vive sem frescura e se eh livre. As pessoas tem disponiblidade para sorrir, conversar, perguntar sobre a sua vida, porque o modo de vida aqui, permite ver  ou outro ou ateh mesmo jogar uma conversa fora. Ateh o labrador da lojinha do lado de casa eh mais tranquilo. Outro dia eu e o Y. vimos ele sair, ir para a praca, fazer seu xixi e voltar para a lojinha. Incrivel como ateh cachorro pode ser desenvolvido. Outro dia tambem eu estava passando por uma esquina quando uma menininha linda, com seus 5, 6 anos, de saia, trancas longas, me pediu para atravessar a rua com ela. Simples assim. "Ainda sou crianca", ela me disse. E seguiu seu caminho. Se pode confiar em estranhos para atravessar a rua, e, com toda certeza ela aprendeu em casa a pedir ajuda para uma pessoa mais velha. 
Mas, enfim, escrevo porque estou aqui faz sete meses e todos os dias sinto uma alegria enorme p. Principalmente por ter ido. Eu cheguei aqui sem conhecer ninguem, sem trabalho, sem falar hebraico ou ingles e o que poderia ser uma loucura se tornou a coisa mais saudavel que ja fiz em toda minha vida. Tenho amigos, tenho trabalho e sorrio em hebraico quando vejo as palavras saindo da minha boca, formando frases, vontades e argumentos.
Eu dou meu apoio amplo, geral e irrestrito para todas as pessoas que querem sair do Brasil. Existe sim vida inteligente onde livre pensar nao eh so pensar.

segunda-feira, 30 de março de 2009

O Perfeito Cozinheiro das Almas deste Mundo



... a gente recebe muitos emails mas poucas mensagens.

Recebi essa, linda, do meu -seu, teu, nosso- sepinterno -amante, irmao, namorado,  amigo -Luiz Puech. Compartilho:

"Oi meu Amor
sinto que não fui justo comigo mesmo...o que direi com você!
A vida prá mim é assim:
não há mais judeus, não há mais árabes, e nunca houve...nem nunca ouvi.
Há seres humanos, esses sim que me valem. Não sei de onde nem quero saber. Amo a todos, cada um me trazendo "uma cesta de oferendas".
E as aceito todas porque saciam a minha fome de vida.
Beijo
Vou mais tarde....blogar no teo blog"

bj! Vou me seguindo...ps: O Luiz sempre foi o mais justo dos homens que eu tive, tenho e terei. 25 anos de idas, vindas, voltas nao sao 25 dias..;)

domingo, 29 de março de 2009

ainda Brasil

A perola do dia eh da Ilana Bekin que estah na India...e tambem comecou a  pensar em fazer "desbunde d0 brasil, seja feliz" . Pois bem, entao conversavamos sobre isso e sobre como estou feliz aqui em Israel e como ao mesmo tempo triste com o Brasil a cada dia que passa. A perola:

"em israel se diz ESCRAVOS FOMOS.....; no brasil se diz ESCRAVOS SOMOS..."



Plataforma de uma Geração (Digital)


Sobre fotos, enfim. Como a maioria dos menos imortais, sou espectadora fiel do Bresson, do Brasai, queria sim uma Laica como a minoria dos mortais e tremo quando vejo uma lente fixa de 50 mm. Mas, do mesmo modo que tenho a certeza de que a realidade nao tem zoom, tenho serios problemas com PB. Acordo todo dia, abro a janela, saio na rua, olho, miro, vejo, observo: a vida eh colorida. 

Plataformas


O meu mininote voltou da assistencia sem placa de som mas funcionando...eu ja sabia que a placa de som tinha ido para o espaco. Lindo. Pois bem, para minha surpresa a plataforma Windows que era toda em hebraico voltou em arabe. Dai me lembrei: antes de ir para a assistencia tecnica os amigos do Samir tentaram, em vao, recuperar minha placa de som. Que micro, quer dizer, mico.

Ministerio das Perguntas Imbecis


Por que  toda as pessoas  que eu converso no Brasil, reclamam? ;)


As palavras

e as coisas: Deviam ter inventado o Twitter quando eu estava no Jardim da Infancia. Minha vida poderia ter sido diferente com a logica do 140 caracteres. Passei o dia hoje baixando no Ipod Cordel do Fogo Encantado, Carlinhos Brown, Egberto Gismont, Suzana Salles, Alceu...mas a perola do dia, quer dizer, da noite, fica por conta da maravilhosa conclusao de Y.  enquanto ouviamos muita musica e conversavamos sobre Ceu, Fernando Porto e musica de hoje em dia feita de 140 eletrons:

"Ainda bem que a Elis Regina morreu. O que ela estaria fazendo agora da vida?"

Bj. Me segue que o "A gente ainda nao sonhou" do Carlinhos Brown eh pra la de bom...;)

obs: voltei ao meu economico teclado sem acentos.






domingo, 22 de março de 2009

Soneto da Fidelidade

Para quem ainda não sabe e para quem nunca parou para pensar no assunto:

Certa noite o Vinicius de Moraes já tava para lá de Bagdá, num jantar importante, quando lhe pediram para fazer uma homenagem para a aniversariante, senhora da sociedade carioca, esposa de diplomata. Declamar, claro, o Soneto da Fidelidade, aquele que diz a famosa frase "que não seja imortal posto que é chama".
Então o Vinicius, parou, engasgou, continuou:
"mas que seja infinito enquanto duro."

Samianalytics do mês de Adar

Elegia: indo para o leito

Vem, Dama, vem que eu desafio a paz;
Até que eu lute, em luta o corpo jaz.
Como o inimigo diante do inimigo,
Canso-me de esperar se nunca brigo.
Solta esse cinto sideral que vela,
Céu cintilante, uma área ainda mais bela.
Desata esse corpete constelado,
Feito para deter o olhar ousado.
Entrega-te ao torpor que se derrama
De ti a mim, dizendo: hora da cama.
Tira o espartilho, quero descoberto
O que ele guarda quieto, tão de perto.
O corpo que de tuas saias sai
É um campo em flor quando a sombra se esvai.
Arranca essa grinalda armada e deixa
Que cresça o diadema da madeixa.
Tira os sapatos e entra sem receio
Nesse templo de amor que é o nosso leito.
Os anjos mostram-se num branco véu
Aos homens. Tu, meu anjo, és como o Céu
De Maomé. E se no branco têm contigo
Semelhança os espíritos, distingo:
O que o meu Anjo branco põe não é
O cabelo mas sim a carne em pé.
     Deixa que minha mão errante adentre.
Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre.
Minha América! Minha terra a vista,
Reino de paz, se um homem só a conquista,
Minha Mina preciosa, meu império,
Feliz de quem penetre o teu mistério!
Liberto-me ficando teu escravo;
Onde cai minha mão, meu selo gravo.
     Nudez total! Todo o prazer provém
De um corpo (como a alma sem corpo) sem
Vestes. As jóias que a mulher ostenta
São como as bolas de ouro de Atalanta:
O olho do tolo que uma gema inflama
Ilude-se com ela e perde a dama.
Como encadernação vistosa, feita
Para iletrados a mulher se enfeita;
Mas ela é um livro místico e somente

A alguns (a que tal graça se consente)
É dado lê-la. Eu sou um que sabe;
Como se diante da parteira, abre-
Te: atira, sim, o linho branco fora,
Nem penitência nem decência agora.

Para ensinar-te eu me desnudo antes:

A coberta de um homem te é bastante.


Tags: fraqueza, verdade, Jonh Donne

sábado, 21 de março de 2009

O que não consegui deixar de pensar hoje:

Por mais distante o errante navegante quem jamais te esqueceria...

ou:

Maria pé no mato é hora: arriba a saia e vamos embora!



Resumo da Ópera

ufa, que shabat mais intenso.

é quase impossível ficar aqui, no micro, com um ipod itouch com twiter ao alcanse das mãos o tempo inteiro.

faz tempo que não me sentia tão completa tecnologicamente. Leio e respondo meus emails em qualquer lugar: na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê aqui em Jerusalém.

E todos os dias penso: como vivi até hoje sem um itouch? enquanto isso vou ouvindo muita música, caminhando contra o vento de lenço e com documento.

E por falar em documentos e lenços: hoje foi um dia em que poderia ter escrito no meu Twitter:

"Em Bet lechem. Dando satisfação para a polícia Palestina"
" Os soldados palestinos são mais bonitos que os israelenses. Deus existe."
" O exercito israelense faz que acredita que eu estava em Território Palestino apenas fotografando"
" Cruzando a fronteira da Cisjordânia. Voltando para a Casa."

Fui seguida. Sigo também: 


bj! me segue!




terça-feira, 17 de março de 2009

Au Revoir, Les enfants!




Obrigada pela luz, alegria, companheirismo e bagunça de vocês dois. Em tempo: RaPhael Cohen Nissan e Marcelo Sizer na melhor performance na madrugada de despedida aqui no CAsuperFoFo. Mandem noticias do mundo de lá, Brasil. Tudo, junto com vocês, era fácil, engraçado, sem crise e completamente em paz. Avisem seus pais que vocês são meninos exemplares!:)
Posted by Picasa

quarta-feira, 11 de março de 2009

Rara aparição...

Dia daqueles engraçados hoje. Acordei assim assim. Não queria sair de casa de jeito nenhum, desliguei o telefone mas tinha que tomar uma atitude. Enfim, tomei banho bem mal humorada para ver se animava a ir ao menos na rua comprar alguma coisa pois não havia nada para o café da manhã aqui. Me vesti e quando abri a porta da rua, havia uma cestinha de purim, com celofane, laços de fita, doces e bolinhos e um lindo cartão praticamente anônimo pois não conheço quem assina. Milagre de Purim, pensei. Não sem antes sorrir e voltar para dentro de casa e tomar o café da manhã que estava na minha porta. Coisas que só acontecem em Jerusalém, claro. Provavelmente quem deixou a cestinha aqui foi algum morador generoso do prédio. Ou não. Talvez seja milagre mesmo: porta errada. Mas não havia nomes no cartão. Nem o meu. Enfim, nada como começar um dia em que você acorda péssima com uma cesta de café da manhã na sua porta.  Fui para a rua fotografar. O resultado está lá no meu outro blog (www.photojerusalem.blogspot.com)  Outro milagre: me fotografaram com as meninas do exército de Israel quando estava na rua Ben Yehudá registrando o Purim. Estavamos todas felizes e em paz:

terça-feira, 10 de março de 2009

Futilidade Pública

Adorei. 
A Rosana Hermamm postou hoje no seu Blog um site onde você descobre a música que mais tocava no rádio na data do seu aniversário.
No meu caso - de utilidade particular já que escrevo a primeira parte do meu memorial sobre a influência da  música na minha formação- foi bingo puro.
No dia em que nasci a música que mais tocava era "Monday, Monday" do The Mamas and Papas.
Não é à toa, então, que o conjunto está elencado na minha afetividade auditiva da primeira infância.
Vai lá também:

Um pouco de amor numa cadência

Hoje fiz a minha adiada visita ao sr. Lev Strinkovsky, fazedor de violinos. Saí de lá caminhando até em casa com violão novo na mão. E é óbvio que não fiz mais nada o dia todo. Aconteceu que o ipod itouch também novo, zanzando todo João Glberto do mundo junto comigo pelas ruas de Jerusalém, tornou inadiável minha visita ao lutier.
Perdi todos os calos nesses seis meses sem violão e só me dei conta disso conforme a carne viva foi surgindo na ponta dos dedos; em compensação minha mão esquerda saiu pedalando polegar indicador médio anular; indicador médio anular; polegar; indicador médio anular; sem rodinhas. E foi surgindo o Samba da Benção numa forma de oração: meio bossa nova rock'n roll
Faz parte do meu show.




segunda-feira, 9 de março de 2009

Purim

Festa nas ruas de Jerusalém. Como eu nunca pude ver em São Paulo. As pessoas se fantasiam como se fosse a coisa mais comum do mundo e a alegria está no ar, em todas as ruas, as lojas lotadas de coloridos e dourados. O tom da paisagem humana está mudada e o layout preto-e-branco-com- cachinhos dos ortodoxos saiu da cena urbana para dar lugar à pedritas sem meias, perucas loiras, adolescentes vestidas de noivas e diabinhas com chifre e tridente vermelhos de espuma, garotos com perucas azuis. Adar é o mês da alegria.
Falta, claro, uma boa música de rua. Mas o israelense não possui esse referêncial. Mas eu conheço o carnaval do Pelô e a música brasileira; estou de ipod itouch. Novinho em folha. Então, tudo é mesclado pela intensa e boa música que caminha comigo.São Paulo, São Paulo:Vinicius acertou sobre o túmulo do samba. Uma pena que nem no carnaval as pessoas dos bons bairros de São Paulo possam ser alegres, descontraídas e fantasiadas como o jerusalomita.

quinta-feira, 5 de março de 2009

E eu nem fumei

A narguila gigante do Raphael veio parar aqui em casa.

O Rapha deixou-a com o H. que por sua vez largou com o Y.

Na mudança do Y, essa semana, ela chegou aqui de taxi. 

Está encostada no branco da parede num ângulo tal que mais parece um braço de violão.

E eu tô quase tocando narguila. Na esquina de baixo tem um lutier que parece o Gepetto.

Evito  entrar lá mas acho que aquele sonho com o Nando Reis já era o desejo saindo da sonolência. 

Num tô guentando mais ficar sem  violão, tudo indica.





Verdade Tropical

Faz dois dias que terminei a leitura do Verdade Tropical do Caetano.

Como disse anteriormente aqui: "Estou encantada com a maneira fluída, honesta e modesta com que o Caetano discorre. Pra minha surpresa a escritura passa ao largo de uma grandiloquência que eu, sinceramente, esperava e estava  preparada para encarar."

Eu reli várias vezes o  índice onomástico nas páginas finais. E só tendo uma noção espinhal da quantidade de pessoas citadas, renomadas ou não, descobri que naquela medula está o meu argumento de um narrador que se dissolve amorável.

Na noite que findei a leitura sonhei que narciso olhava sua imagem e se apaixonava por ela porque estava só, porque não havia ninguém com ele. Tudo seria diferente se houvesse uma companhia para Narciso.

Creio que a inclinação de Narciso para se apaixonar pelo que viu, elezinho,  poderia ser por uma flor,  um bicho, uma nuvem ou um outro ser humano se isso também se refletisse na sua cena primordial. Haveria, ao menos, oportunidade de escolha. E, se então, optasse por sua própria imagem aí sim eu teria a certeza de que Narciso é narcisista.  Para mim a maior característica de Narciso é a sua capacidade para ver e amar o visto.
 
Acordei achando graça do meu sonho. Caetano nunca esteve só, pensei. E  chamei de bom gosto o que li; de bom gosto, bom gosto.





segunda-feira, 2 de março de 2009

Para Todos

A Foto da Capa

O retrato do artista quando moço
Não é promissora, cândida pintura
É a figura do larápio rastaqüera
Numa foto que não era para capa
Uma pose para câmera tão dura
Cujo foco toda lírica solapa

Era rala a luz naquele calabouço
Do talento a clarabóia se tampara
E o poeta que ele sempre se soubera
Claramente não mirava algum futuro
Via o tira da sinistra que rosnara
E o fotógrafo frontal batendo a chapa

É uma foto que não era para capa
Era a mera contracara, a face obscura
O retrato da paúra quando o cara
Se prepara para dar a cara a tapa


(Chico Buarque in Paratodos)

Dando um jeitinho...

Hoje, como medida de prevenção, retraduzimos -eu e  Loki- um antigo canto de  liberdade para a língua hebraica:

Fica assim:

"Zeh assur laassor!"

"É proibido Proibir"

Comemoração de  1 mês em cartaz do  Acústico Jerusalém.

Eu mesmo mentindo devo argumentar


Se você insiste em classificar meu comportamento de anti-musical

(minha homenagem aos hífens que permaneceram)

Para não dizer que não falei das Flores

Vira e mexe o Samir me liga da fronteira dizendo que " o soldado não quis" .

Então, eu guardo a comida na geladeira, coloco meu abrigo, deito na cama e continuo a ler.

Ontem li 200 páginas do "Verdade Tropical" do Caetano, assim, num folêgo só, não conseguia parar.

Estou encantada com a maneira fluída, honesta e modesta com que o Caetano discorre.

Pra minha surpresa a escritura passa ao largo de uma grandiloquência que eu, sinceramente, esperava e estava  preparada para encarar.

Parece mesmo que o Caetano tá aqui comigo, conversando, me contando a versão dele de um monte de coisas que eu já sabia mas não assim, tão pertinho.

Caetano- livro está sendo uma excelênte companhia enquanto eu conto com a boa vontade e o bom humor de um soldado para o Samir voltar  para Jerusalém, para casa, para mim.