sábado, 8 de agosto de 2009

Constelações Familiares*


(*Constelação Familiar é um método psicoterapêutico recente, com abordagem sistêmica fenomenológica, de fundo filosófico, desenvolvido pelo filósofo e psicoterapêuta alemão Bert Hellinger.Hellinger desenvolveu seu método a partir de observações empíricas, fundamentadas em diversas formas de psicoterapia familiar, dos padrões de comportamento que se repetem nas famílias e grupos familiares ao longo de gerações.Fonte:Wikipédia, a enciclopédia livre.)

Desde 1994 que monto e desmontos casas. Sempre, sem esquecer nenhum detalhe. Tenho uma companheira enorme nessa saga que partilha comigo caixas, durex, caminhões, guarda-coisas, Ana Lucia, minha mãe, que é só eu falar que "acho que vou mudar" que ela aparece de onde está. Antes, soltamos boas risadas. Ela gosta. Eu também. Rimos muito nas mudanças, todas, lógico, simbolizam alguma perda com ganhos futuros nem um pouco previsiveis. Algumas vezes, muitas, eu nem participo da mudança. Vou embora e ela cuida de tudo. Reclama muito pouco, apenas comenta rindo: "quem pariu Moisés que o embale". Minha Tia Maria Lucia, filha de Eunice, irmã do meu avô, é igualzinha, e embala também as mudanças dos seus Moisés, Luciano, Ricardo e Guilherme Gama Ramalho, sendo que, a expressão "ter rodinha na bunda" é comumente usada em encontros familiares, sempre muito divertidos, porque todos os citados acima são piadistas e alegres.

A verdade verdadeira- para usar uma expressão do meu avô Mauricio Loureiro Gama- é que enjoamos das casas e da disposição das coisas. A casa da minha mãe na Mateus Grou está sempre em reforma. Ela cansa, eu também. Ela sabe que herdei esse gosto pelas mudanças através da nossa convivência. Ela mudou pouco de casa e de endereço quando comparado a mim mas , em compensação, nunca parou de mudar a casa inteira nos minimos detalhes. Temos, obviamente, histórias hilárias, como, por exemplo, quando minha mudança para a casa da Paes Leme, em Pinheiros, culminou com minha mãe desmontando o apartamento do guarujá e a casa da minha avó teia; após tudo arrumado, foram dias, me dei conta que eu possuia oito bandejas, quatorze cadeiras, duas geladeiras, aparelhos de louça para todas as ocasiões, tudo triplicado. Eu liguei para minha mãe e ela morria de rir. O resultado dessa história é que aos poucos fomos montando a casa de muita gente, como o Maestro Luciano, através da Neusa Romano e do Mauricio Negão, que, ficaram chiquéssimas e toda vez que os encontrava, eles lembravam, tiravam sarro das bandejas que impressionavam, coisas assim. Era divertido.

Do ano de 1994 até hoje, 2009, foram dez casas. Dessas, apenas duas eu encontrei sozinha: a que moro agora e a da Alziro Prates na Bahia. Um verdadeiro feito heróico para mim porque na verdade nunca precisei me preocupar muito com isso já que minha mãe procurava e achava as casas para mim e apenas me telefonava para ver se eu aprovava, se estava do meu gosto. Em muitas, eu impunha condições: sala grande ou janelas de ponta a ponta, ou paredes brancas ou assoalhos. Dependia da minha fase na época. Minha mãe entendia e atendia. Atordoava os proprietários com o seu magnâmico discurso e presença.

Outro dia ela me disse que viria para cá, Jerusalém me visitar. Eu, então, pedi para ela esperar um pouquinho porque, provavelmente eu vou mudar do studio onde estou morando e quero ter o prazer de que ela venha para me ajudar na mudança, pois, merecemos uma apuração internacional, depois de tantos anos. Não tenho quase nada aqui comparado as minhas outras todas casas. Em olha à volta e me pergunto como consegui acumular tanta coisa desde Janeiro, mês que mudei para cá, mas mesmo assim é uma mudança simples, como riu minha mãe ao telefone, me dizendo que essa é fichinha.

Perdi a conta de quantos ventiladores e ferros e liquidificadores e batedeiras comprei e doei nessa vida. Sempre rindo, principalmente quando tenho que comprar de novo, seja porque muda a voltagem e eu não sou a pessoa mais atenta do mundo para conviver com transformadores, seja porque não posso carregar peso na mala. Seja lá pelo que for e em que fase ou cidade ou pais me encontro uma coisa é certa: a cada nova reaquisição sinto que a vida é farta para mim, esteja eu com dinheiro ou não. Fartura nada tem a ver com dinheiro, assim como conforto e beleza depende somente de boa e muita vontade. Não está na prateleira.

Claro que tenho muita coisa espalhada pelo mundo. As pessoas se disponibilizam para a sentinela do que foi meu. Por causa disso, a parte mais intensa das minhas mudanças todas, é deixar exatamente o que a pessoa deseja ou necessita para guardar para mim. Eu nunca mais volto para pegar, claro está, e dependendo da dimensão da coisa fica por conta da minha mãe idas, voltas, carretos. Eu já não estou por perto e mesmo se estivesse seria por conta dela. Ela gosta. Eu também.

Sim, eu herdei dela o gosto pela coisa mas fui uma edição revista e aumentada. De quem, no entanto, minha mãe adquiriu a veia pelas mudanças? Por um lado, tenho certeza de que foi pela Vó Teia, mãe da minha mãe. Afora inicio e fim da vida, minha avó, muito discreta e elegante, nunca conseguiu parar muito tempo dentro de casa. Arranjava desculpas belissímas, arrumava a malinha, pegava a "jardineira" na rodoviária e partia linda, alegre, cheia de saúde para várias outras casas, como a do meu Tio Mauri em Tupã, a de amigas dela em Campinas, na da minha mãe em São Paulo e no casarão em Tatuí. Ela fazia visitas de uma forma tal que nunca passava mais de seis meses no mesmo lugar. Precisava sair e saía. Era sempre desejada e querida nos lugares. Depois que partia era rodeada de telefonemas de "quando você volta, Stellinha?".

No entanto, eu creio que minha mãe herdou muito do gosto pela mudança, pelo lado do meu avô, Mauricio, pai dela. Durantes anos escutei e internalizei que, se a familia tinha imóveis, era por esforço e obra da minha avó Teia com a economia do dinheiro ganho do meu avô Mauricio, que cá entre nós, possuia, além do garbo e da beleza, uma máquina de escrever e oito empregos.
Este homem, este meu avô Mauricio, de quem eu herdei sem sombra de dúvida, o vigor e a pândega de viver a vida sem aborrecimento, sustentou e amparou, com sua Remington, duas familias: uma, a nossa, que era constituida de minha avó Teia, tres filhos e seis netos. Meu avô ajudou todo mundo a ter casa em vida e em morte também, além de muita coisa que alguém quer ter dentro dessa casa, a saber, quase tudo que fica dentro da geladeira e a volta dela como piscina, sala, armários com roupa, sala com móveis, grama, cortina.

A verdade verdadeira é que nenhum de nós, em escala, jamais fomos tão brilhantes quanto ele, que por sua vez, adorava ser generoso com os que dependiam dele, isto é, todos da familia, incluindo os agregados, genros e noras. Cada um de nós na familia temos uma qualidade ou um defeito que vem dele mas somente ele condensava, espetacularmente, todas as virtudes e defeitos, que emanavam da sua pessoa. Quem teve o privilégio de conhecer meu avô sabe exatamente a que estou me referindo: meu avô era um homem bonito, impecável nos ternos, inteligente, bem sucedido e como se não bastasse essa conjunção favorável, era um homem importante, famoso, alegre e generoso. Sim, ele não era nada humilde mas quem é que pode ser humilde dormindo e acordando com tamanhas qualidades todos os dias? Ninguém que conviveu à sombra da luz do Mauricio pode ser humilde ou chorão mas nós todos nos tornávamos humildes quando ele estava por perto. Não havia outra realidade. Ele era melhor que todo mundo junto. Era fato. E então cuidava de todos como um rei cuida do seu reino. Por conta disso, apesar de humildes, levamos todos uma vida na realeza, no castelo que meu avô mantia para a familia dele.

Mas havia outra familia. A que nos ensinou o tabu. Meu avô possuia outra mulher, que por sua vez tinha três filhos que não eram dele, acho. Mas ele criou, ajudou e sustentou todo mundo por lá também. Assim como nós, ali ninguém era humilde. Ao contrário, todos da outra familia do meu avô, descendiam de nobre nome da imigração italiana da década de vinte. Essas crianças da outra familia cresceram com a presença do meu avô na casa delas. Depois, quando adultos, viam ele como a um pai, também brilhante, também importante, também incontestável, exatamente como nós.

Mas meu avô, esse ser inquestionável, jamais teve uma casa própria embora tenha dado casa para todo mundo. Ele simplesmente não quis o que não é a mesma coisa que não precisar. Ele não precisava também. Meu avô vivia a vida com um olhar acima das necessidades básicas e conhecia todas elas: veio de familia muito, muito pobre, coisa que não foi o suficiente para afastar dele a fartura da vida que foi farta para ele em tudo: amores, dinheiro, mulheres, festa, consagração, familia, e muita, muita dança, musica, trabalho e alegria. Sim, ele partilhava e dividia tudo isso. Tirando os ciumes e acessos doentios das mulheres da sua vida nunca soube de outro problema do meu avô. Nunca o vi chorando e só depois da sua morte, quando eu não conseguia me encaixar em algumas situações na minha vida, é que percebi que convivi a minha vida inteira com um homem, ele, que eu nunca ouvi reclamar de nada. Sim, era esse o segredo dele, o que o tornava um rei absoluto. Só após a sua morte é que me dei conta que ele devia ter muitos problemas como todos nós, como o mundo inteiro, mas era do seu feitio tirar tudo isso de letra e simplesmente não comentar sobre as intempéries da sua vida, ao mesmo tempo que, apagava o incendio de todo mundo.

Um nobre. Sim, ele se calava quanto aos problemas mas nunca se calou sobre o lado bom, o lado proveitoso de qualquer situação e foi assim que a vida o tornou farto e rico e expansivo. Passei a vida vendo as mulheres e homens ( esposas, filhos, netos) disputando a atenção do meu avô mas era impossível reclamar, financeiramente, dele. Dava tudo para todo mundo, o que acabou deixando tudo mais claro para mim quando tenho que calcular exatamente da onde vem determinadas reações minhas perante a vida. Sim, menos brilhante que ele, mas muito, muito parecida. Assim como meu primo Marcelo Gama. No entanto, não chegamos aos pés dele, temos ciência disso. É muito dificil para mim conviver com pessoas que não consigam administrar as pequenas coisas da vida com grande categoria e não saibam ministrar todo mundo junto.

Creio que foi por isso que depuz todas as minhas armas e minha parafernalia emocional conforme fui me certificando que o Samir, meu namorado, cuida de todo mundo da vida dele como se fosse a coisa mais natural do mundo sem nunca ouvi-lo reclamar: trabalho, seis filhos, a mãe dos filhos dele, e, para completar, eu, que cheguei chegando, e, claro, fui ficando conforme me certificava a cada dia que ali estava algo do meu avô, a ombridade, uma natureza sem suspiros que cuida dos seus com uma vontade férrea e espontânea onde todos são prioritários. O que ele recebe de volta? sorrisos na face quando ele chega, felizes com a sua presença.


O Samir construiu uma casa muito grande, de quatro andares, que abriga confortavelmente toda a sua familia. Outro dia, ele me disse, entre um gole de café e outro que, ele mesmo, não precisa de tanta coisa, que simplesmente, precisa apenas de uma cama, um quarto, e, claro, amor de uma mulher e de uma vasta familia. Eu, claro, sorri. Cresci vendo essa fita, essa pelicula, esse filme.

Eu me chamo Luciana em homenagem a um homem muito importante na vida do meu avô, que carinhosamente ele chamava de "Papai Luciano", mas que era seu avô, Luciano Loureiro de Mello. Foi quem criou o meu avô quando o pai dele, o Teófilo Andrade Gama, foi atingido por um raio quando falava ao telefone na farmácia de sua propriedade, em Tatui. E hoje estou certa de que meu primo, o Luciano Gama Ramalho, esse gênio do Phiton, possui o nome por homenagem também. No caso, penso eu, por causa do mesmo nome, eu e o Luciano temos uma ligação mais direta com o Vovô Luciano; do pouco que sabemos, um sujeito pacato, que criou os netos, Silvia, Eunice, Mauricio e Murilo.


Vovô Luciano era boiadeiro, não tinha propriedades, mas viajava comumente para Minas levando e trazendo bois para o interior paulista. Foi em Minas que importou Teófilo, recém formado em farmacia, para casar com sua filha Anésia, mamãe Nesita para os íntimos, depois conhecidissíma como Anésia Loureiro Gama, professora importante, nome de grupo escolar em São Paulo, rua em tatui, etc.

Posso dizer com segurança que não era nada comum possuir diplomas nas poucas faculdades existentes no Brasil do XIX. Nesse sentido, é simples imaginar que Teófilo de alguma forma possuia uma familia para lá de remediada, que permitiu que ele fosse um doutor em Farmácia, na faculdade de Ouro Preto. Creio que é essa a linhagem dos inteligentes da familia. Não são poucos. Aqui incluo, fora os já citados, o Paulo Gama Aires, filho da Tia Cecilia e neto da Tia Silvia, irmã querida do meu avô bem como as filhas da Tia Ana Maria, a Cris e a Andreia, mas elas também são Castrucci, por parte do pai e avô, garantia de inteligencia dupla.

Infelizmente, sei muito pouco sobre os filhos e netos do Murilo, irmão querido do meu avô e por isso não posso comentar sobre eles, sobre quem gosta de mudanças ou sobre quem é o inteligente alí. Uma coisa apenas eu tenho certeza, deve haver. Só não sei quem, ainda. Tio Murilo ficou em minha lembrança como um amador de pássaros, assim como meu avô, outra constelação da familia, os pássaros, que recaiu sobre meu tio Mauri, meu tio Tata, meu primo Marcelo, e eu, um pouquinho. Uma coisa é certa, alguém, acima deles amou também os pintassilgos.

Eu creio que é do Vovô Luciano, esse lobista do boi dos outros, que andava de lá para cá, sem parada, que está a chave pelo gosto de mudança de lugar que se apodera da minha mãe, da minha tia Maria lucia, dos meus primos Ricardo e Guilherme Gama Ramalho, do meu primo Marcelo Cardoso Gama, Maria Silvia, Mário e eu. Acho que os filhos do Tio Armando Carlos podem ser inclusos nessa lista quando o assunto é boiada. Somos todos bem corajosos quando o assunto é arrumar a malinha.
E ponto final.















6 comentários:

Shlomit Or * Luciana Gama disse...

... e eu aqui nessa viena, de volta por uma semana só que segunda comeco trabalhar de novo em stuttgart. tô de novo no meu apartamentinho olhando pra essas paredes cheias de coisas e pensando o que fazer com elas, querendo me livrar de tudo e me sentir livre. a verdade verdadeira por aqui é que estou "no ar" há um ano, morando naquele castelo de sonho mas já quase acordando... mais dois meses por lá e eu me vou pra tatuí (!!!) por três meses. tenho a sensacao que quando chegar lá é que vou acordar de um sonho que levou vinte anos. sempre acho isso, que volto para o brasil e a vida acorda ou comeca, nao sei direito, é como se isso aqui tudo nao fosse a vida de verdade mas algo entre parênteses. nossa, parênteses a vinte anos!!! mas quem imaginou que um dia eu moraria em tatuí, fosse pelo tempo que fosse?? .... depois volto pro tal do castelo, mais dois meses e depois nao sei de nada, a nao ser um mês na áfrica do sul e um projeto esperando financiamento que vai me mandar para dezoito capitais euroéias por um mês em cada cidade, se der certo. áfrica é o meu sonho!!! mas bem na época do copa de futebol!?!?!?! é a segunda vez que estou num país que vive essa desgraca e sou obrigado a presenciar essa chatice desumana e burra. pessoas enroladas em bandeiras de países gritando e chorando pelo orgulho nacional. burras. ainda bem que gama nao precisa ser humilde... aliás, fiz um teste de qi e fiquei completamente PUTO!!!! ... só deu: "muito acima da média". pô, podia ter dado "genial", mas tudo bem... agora entendi, esse era o vô.

de volta às paredes... quem precisa de tanta coisa? armário é uma coisa muito feia, resolvi dar todos! onde vou pendurar minhas roupas, aquela que só dá pra pendurar mesmo? também nao sei, mas armário é uma coisa muito feia! vou acabar dando tudo. roupas, só as que nao precisa passar... como móveis, só os de rodinha! o fato é que nao consigo voltar pra viena. acho que nao sei voltar! só sei ir! entao vou pra berlin que é pra onde se vai mesmo. nao sei pra que nem por que apesar de ter milhares de explicacoes. tudo mentira, simplesmente é hora de ir. (isso dá até um medinho... "hora de ir"... de repente "eu vou" mesmo e nao era bem isso que eu queria. ai meu deus, tanto aviao pela frente!) mas eu tenho a maior preguica das caixas, tesouras, durex etc. passei dias aqui e nao fiz nada, só olhei, dei umas coisas que eu achei "a cara" de um ou de outro, passeei pela cidade pra ver umas coisas que eu gosto, lugares onde eu ia e achei que já nao é mais nada a mesma coisa. tudo impessoal, mudaram o chao das ruas principais da cidade, e realmente... eu nunca pisei lá!! ...e também nao tenho tanta experiência... dezoito anos de europa e berlin será só meu sexto endereco. isso se for mesmo e daqui a sete meses... até lá, estou só a caminho.

de qualquer maneira, estou fazendo tudo por uma certa intuicao que também se pode chamar de "capricho" e isso me enche de dúvidas. fico de saco cheio de mim mesmo. depois penso, se tivesse alguém por aqui pra empacotar, telefonar etcetc, nao pensaria duas vezes em nada, já tava lá. adoraria poder só ir quando for pra ver se gostei!!!! bom, mas nao é que uma amiga arrumou uma casa com vários apartamentos livres a escolher, pegou um pra ela, um pra outra amiga nossa, e talvez ainda venham mais uns três ou quatro?? resolvi pegar um também. e pelo jeito já tenho até família...

depois de ler sua saga, essa certa intuicao ganhou algo de disposicao do destino. fiquei leve que só. destino nessas horas nao é ótimo?? a gente nao pode fazer nada mesmo... oba, vou dar geladeira, fogao, televisao, ferro... bando de coisa chata! ... em compensacao, aluguel, táxi, restaurante... e viva o vô maurício que realmente sabia das coisas!!!

beijos e ... fui!

(email de Marcelo Cardodo Gama, lógico!)

Shlomit Or * Luciana Gama disse...

Bá,

Você se lembra daquela história famosa nossa onde viramos heróis e orgulho do Vô?

Aquela dos tickts, vele refeição, que ele deu cartela lotada para nós dois e então, partimos, eu e você, pirralhos, para o Romulo e Remulo, uma cantina, pedimos um rondelli, uma garrafa de vinho de "Chateau du Papa" porque era o que o vô pedia e sõ conheciamos aquele e gastamos tudo e ainda sobrou para que pedissemos a sobremesa, peras com chocolate quente, e quando chegamos em casa levamos o maior sermão da minha mãe e do seu pai que resolveram contar a besteira que fizemos para o Vôe o vô teve um ataque de riso, ficou orgulhoso da gente, disse que era isso mesmo, que éramos neto dele, e etc...

lembrei dessa história...monumental, como a nosso modo de viver a vida...

bjs. te amo!

ah, claro que vou ver sua opera em Tatui!

Ricardo Ramalho disse...

Se arrumar as malas é sinal de coragem então ja posso pular de para-quedas.
Na minha mala tem um cão brasileiro. Onde eu vou com ele surge um quintal: São Paulo, Cerquilho, Granja Viana (com a Luciana), Vila Madalena, Porto, e agora em Penafiel, a 35 km do Porto, um lugar que podemos chamar de Portugal profundo.
Depois de 3 anos descobri como os brasileiros encontram alguma felicidade em Portugal, arrumei emprego num restaurante. Mas não sirvo mesas, sou um nobre Gama, protegido na cozinha, com uma farda branca, sapato branco e farinha branca. Um restaurante chic e caro, digno dos Gama. (e se eu servisse mesas, dava um show de serviço).
Faço mestrado, afinal sou Gama. A Faculdade de Belas Artes do Porto é o espaço académico mais deprimente que ja conheci em toda a minha vida. Um colega que estudou na UFRJ disse que a FBAUP é mais deprê que a UFRJ.
Eu colecciono coisas boas em Portugal, é um hobby, uma espécie de garimpo: Opá, isto é bom!
Mas não vou falar de coisas boas em Portugal, senão a conversa acaba rápido. Sou casado com a portuguesa Cátia, ou seja estou com os dois pés enfiados no lodo luso até o joelho. Tenho um sogro e uma sogra, simpáticos. Vivo a melancolia do imigrante, com o consolo de pertencer a uma família local.
Em Novembro ja poderei tirar o passaporte lusitano. Será que eu quero?
Afinal sou um Gama, a nacionalidade lusa é pouco para mim. E você, quer um? Que tal um passaporte da Somália?
Não tirar a dupla nacionalidade seria como um tapa na cara dos portugueses... tentador, mas minha mulher é portuguesa. Melhor tirar, e quando virar português, terei duas escolhas: ser um português da pior espécie, tentador, ou fazer o que os melhores portugueses fazem, ir embora para qualquer lugar.
Um abraço a todos e desejo tudo de bom, que fiquem onde estão por algum tempo.

Ricardo Gama de Sousa Ramalho (vulgo Li)

PS: E por falar em Gama, sobrenome cuja origem em terras brasileiras de tão remota estava perdida, agora volta a Portugal. Nunca soubemos de estrangeiros na família, nunca pudemos ostentar uma descendência italiana, alemã, nem mesmo portuguesa. Não temos uma avózinha portuguesa, nem uma tataravó. Somos brasileiros quatrocentões pré-históricos, e nosso sobrenome não engana ninguém: tu és um portuga, pá, sempre fostes.

Shlomit Or * Luciana Gama disse...

ai, Lee, eu ri tanto com os seus brancos Gamas do restaurante e mestrado...a familia não é de reclamar muito, pelo visto,e, repare que todos nós somos bem, bem risadeiros, alguém ensinou para a gente que miséria pouca é bobagem, só pode ser...
quer dizer que o cão ainda existe, adorei. Cátia, pelo visto, deve se divertir à beça, afinal, casou com um Gama Ramalho, antidoto duplo contra qualquer espécie de parasilia ou tédio ( Já contou do seu Tio Taça para ela, aquela figura? E do seu pai que sabia que a vida só vale a pena se você vai ver o Papa de Trailler com toda familia dentro. Bem, somente um Ramalho com Gamas à volta poderiam tirar as atenções do Papa João Paulo II, pensando bem, ele era humilde, nós não...:)Num raio de 3 km ninguém se lembra de quando o Papa passou mas do Trailler com aquela gente bonita e risonha dentro, ninguém esqueceu!
Eu moro numa ktnet com pratos e garfos que fui catando por aí mas por obra e graça da conspiração cósmica quando coloco tudo na mesa parece que recebo como se estivesse na Quinta dos Maias, afinal, sou uma Gama também...
ainda acho que vou poder visitar voces ai. To um pouquinho já enjoada daqui, querendo dar uma voltinha, mas como sou uma Gama, tenho que esperar o resultado da minha aprovação no doutorado na Hebraica de Jerusalém. Mas olho a minha mala todos os dias...amei a história do passaporte...eu tb tenho que tirar o meu, o israelense, daqui um mês!
Beijos ao cão e à Cátia!
Lu

Anônimo disse...

Como é bom saber esses Gamas multiplicados e com tantas variedades!Adoro vcs ,e me sinto orgulhosa em ter uma família tão legal,mais que isso amigos....Milhões de bjos Ana lucia

Ricardo Ramalho disse...

Olá Tia! Olá prima Luciana. Olá Marcelo!! faz 30 anos que não te vejo!! (glup...)
Lú! Ja vai poder tirar o passaporte israelense? Pô, estão facilitando muito... rrsss
bj, RR

PS: o Papa.(!) aquilo sim foi um programa, eu tinha uns 15 anos, todos ja tínhamos as bandeirinhas do vaticano, e o cordão de polícias a formar um corredor para o papamóvel, e quando ela passava, todos agitavam as bandeiras, e lembro-me de ter ficado congelado, estupefato com a passagem do Papa, que nem agitei a bandeira, meu braço ficara erguido, porém imóvel, e depois que ele passou pela minha frente, eu pensei comigo mesmo, "ops, não agitei a bandeirinha..."

PS: não fique enjoada de Israel. Seja uma Gama e diga, "daqui ninguém me tira, só saio daqui feliz". Você é uma imigrante novamente, e a vida do Imigrante tem 3 fases:
a fase "Aqui é Demais", a fase "Fudeu", e "Não é tão Mal".

Você está na fase Fudeu. Eu estou na fase Não é tão Mal, é uma ótima fase. (a fase "Aqui é Demais", só dura um dia, 24 horas a contar da hora de chegada do avião).