Tanta coisa para comentar, tanta coisa para contar. Confesso que fiquei escrevendo no blog na minha cabeça durante essa semana passada, uma semana engraçada em que minha nova vida foi entrando nos eixos, vida novinha em folha, bacana, bacana ver a vida se inaugurando com novos horários, novas rotinas, novos costumes. Bem, podemos dizer que agora meu dia gira em torno da Universidade. Chique demais morar na Universidade Hebraica de Jerusalém. Até parei para ler a placa em homenagem aos donatários do meu novo apartamento, gente bacana, pensei, esses Liberman, uma familia argentina que doou o dinheiro para construir um dormitório para estudantes que mais parece um flat, com direito a tudo e algo mais além de conforto, limpeza, e, o que é uma universidade de país desenvolvido, beleza. Aqui é uma gracinha mas quando você entra no elevador enorme, moderno, espelhado, você pode, como eu, lembrar dos dormitórios da triste Usp, lá na Colméia. Sem contar meu microondas, meu ar condicionado, meu ar quente, meu fogão, minha ducha, minha mesa, minha cadeira, minha estante, minha cama, minha janela com tela, minha mais nova geladeira, os armários-cozinha e roupa- tudo em compensado clarinho, piso branco, uma pequena arquitetura que deixa espaço para se estudar sossegado. Enfim, sós. Adoro esse plural. Meus amigos, meus livros, meus discos e nada mais. Voltei feliz da biblioteca, com o peso dos livros entre os braços, sofreguidão do bem.
Entre sexta e sábado não parava de pensar na moça do vestido rosa curto e aquela cena, escandalosa, no You Tube, uma universidade inteira parada, gritando. Você viu? Que tipo de formação a Uniban está dando para seus alunos? Aqueles alunos todos representam uma instituição educacional? Que país é esse? Que formação é essa? Não é à toa que a Uniban está tirando os videos do ar. Pega muito, muito mal para uma universidade, lugar de formação de advogados, administradores, professores, economistas. O vestido era curto mas mais curta são as pessoas que compartilharam aquela vaia, aquele xingamento. Me lembrei, claro, da Geni do Chico e logo em seguida me questionei sobre uma, duas, três gerações que não viveram a ditadura, que não sofreram com a repressão no Brasil, que não leram nos muros "é proibido proibir", "anistia ampla geral irrestrita", uma gente que não viu a volta do irmão do Henfil. Senti saudades do tempo em que nossos professores na universidade faziam questão de voltar a essa questão, sim - diziam- vocês não viveram mas precisam saber, aprender a abstrair ( "não é porque eu não vivenciei que eu não posso saber como foi" : sempre o velho e bom Aristóteles). saudades do básico da PUC, saudades das greves de professores e das greves de ônibus, quando também juntavam com as enchentes em São Paulo e a gente ficava na Universidade porque não conseguia sair e ficávamos ouvindo aquele professor ainda de cabelo comprido e barba grande conversando no refeitório sobre revolução russa. Ele era tão estranho, tão fora do nosso tempo...mas, se não fosse ele... como era mesmo o nome dele? ah, era Erson... não saberíamos nada de Mayakovsky, nada de Yakobson, nada de formalismo russo. Para que serviu tudo isso? Para que serviu aquela professora que nos ensinou tudo sobre Saussure e Pearce? Tudo sobre semiótica e semiologia? Para que serviu para a gente achar tão normal procurar o significante, o significado, o símbolo, o ícone, e, desperdiçar quase todos os versos de Fernando Pessoa na mesa do bar? Sei sim. Serviu na época para rirmos, tomarmos cerveja, conhecer novas pessoas. Depois, nosso mundo ficou maior e a grande maioria do estudantes da minha época seria incapaz de pensar um ato coletivo como esse que fizeram com a menina do vestido rosa curto. Pessoas curtas. Que pena. Na minha época a gente abraçava a Puc, assim, todos os alunos e professores e funcionários davam as mãos e iam abraçando a faculdade no quarteirão da Monte Alegre. Era esse nosso sentimento e ações de protesto coletivo: Paz e amor.
Coisas divertidas da semana: meu vizinho de frente é um árabe que faz pós doutorado em física e só consegue ficar no apartamento dele de porta aberta e falando sem parar ao telefone como se o prédio fosse somente dele. Silêncio? Nem pensar. A vida é muito animada para um árabe e possivelmente ele deve achar essa gente que fica de porta fechada, muito fechada.;)
Já o Samir caiu na asneira de me fornecer a senha do seu facebook numa briguinha caseira e eu aproveitei para entrar e examinar tudo: msn, skype, hotmail. Resolvi, então, que era hora de uma limpeza geral e escrevia em hebraico depois que deletava o que eu queria e o que eu não queria mesmo: "Shlomit fez faxina aqui". Algo como a marca do zorro. O safo Samir, aceitou e ai dele se trocar de senha...o bom de namorar um escorpião quando você sabe astrologia é que você também sabe que eles sempre vão esconder alguma coisa. Faz parte da sobrevivência emocional deles.
E por falar em Shlomit: ganhei sobrenome novo! Faz um mês que tento trocar o erro do meu sobrenome na Universidade e hoje, desisti de vez. Troquei e o moço confirmou que na carteirinha viria o nome certo. Não veio. Eles tiraram o "s" do Santos e colocaram um "beit" ou "vav", ou seja, só hoje percebi que meu novo nome é muito simpático: Shlomit Gama Santob. Santov. Como o Santob de Carrion, ( ou ShemTob) poeta espanhol medieval. Sabe que aderi? Faltava mesmo um sobrenome para a Shlomit e esse veio de graça. Para quem tem tantos nomes como eu, mais um, só vai aumentar minhas divisões curriculares. Mas fiquei contente. Agora sou a Shlomit Gama Santob! Eles também tiraram o "Or" do meu nome. Beseder. Vida nova, nome novo. Tudo de muito bom para você também nessa semana!
Um comentário:
Oi,
E assim te acompanho nesta vida nova.Gostei da dica do email pois por aqui os homens ...bem,toda brasileira sabe né?
Por aqui feriadão ,de novo.Calor e livros.Até soneca a tarde.Bom.
Com carinho,
Cris
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