sábado, 17 de julho de 2010

Senhores tão bonitos quanto a cara de seus filhos

Ha Palmach Street, Jerusalém Shlomit Or Gama © 2010 All rights reserved







Dia redondo, hoje. Não bastasse a beleza dos dias de verão aqui em Jerusalém, amenizados pelo ventos que chegam da Judéia, a luz intensa do sol apontava na janela da sala lá pelas sete e meia de uma manhã escancarada com a chegada radiante do sorriso de Janaína, passando pelo portão, com bagagem de mão rosa, encardida de pó da estrada, ônibus, passeios e calçadas. Atrás de Janaína, um sorriso de pai, luminoso. Michel Rosenthal Wagner, enfim chegava, com seu livro na mala e sua filha pela mão. Eu os esperava com bolo de cenoura integral e calda de chocolate. Pai e filha encontraram-se no aeroporto em Tel Aviv. Michel vindo de Málaga onde foi visitar seu pai, Janaina por sua vez já estava em Israel e havia percorrido o país inteiro com o Taglit. Jerusalém, anota: um bom lugar para encontros.

Mala de escritores são fascinantes porque a primeira coisa que sai delas é livro. Foi assim que Michel me mostrou orgulhoso a publicação do seu: A árvore onde meu Pai catava Nozes. Sim, o livro é caprichosamente editado pela Sefer editora. A narrativa, como sabemos, magnífica porque é fruto de uma viagem, melhor, de um mergulho de Michel nos lugares onde seu pai e avós passaram a infância no Leste Europeu. No entanto, naquele momento, entre malas, café e bolo de cenoura, Michel me mostrava a capa, orgulhoso, porque a foto espetacular da nogueira em frente à sinagoga e na frente do livro, a árvore da infância do seu pai, era da Janaína, que por sua vez, sorria mais radiante ainda, revelada fotógrafa para mim Eu estava, portanto, diante do pai de Janaina que era pai do livro sobre seu pai. Sorri com a compreensão que só os olhos conseguem expressar quando se apertam.

Em algum momento da manhã, na rua Ben Yehudá, no centro de Jerusalém, vi Michel olhando Janaína olhar o que ela olhava pela rua enquanto estava uns passos a nossa frente. Este é um momento único. Eu tenho três filhos. Poder encontrar com cada um é tão especial, confabulou emocionado. Filhos, livros e árvores: amor; palavras que iam e vinham no ônibus, enquanto as ovelhas, cabras e os pastores da estrada da Judéia me enterneciam na paisagem montanhosa e redonda da janela.

Já em casa, entre um copo de água e outro, vi o José Ruy Gandra no facebook, com foto de perfil de lua crescente. Vamos lá seu Zé, quero ser sua amiga, reencontrá-lo. Em poucos minutos conversávamos. Dali, papo em dia, fui ler as colunas do José Ruy. Meus olhos se apertaram de novo, agora marejados, não da orla da Judéia, coisa comumente de tão bela, mas dos textos do Ruy sobre Pedro e Paulo, seus filhos, com direito a galhos de jaboticabeiras, almoços árabes, situações inusitadas. O Zé possui duas colunas onde nos dá o luxo e a honra de compartilhar seu amor, seus filhos e o amor ao seus filhos, chamadas Coração de Pai e Pátrio Poder : http://gandraedit.com.br/revistas/

Hoje foi um dia perfeito do pai dos outros nos outros: na Janaína, na nogueira, na jabuticabeira, no Pedro, no Paulo, na pretinha, nos livros, nos textos, dentro e fora porque o dentro só vale fora, o fora só vale dentro: se diz por aqui que a gente sabe quando uma benção é uma benção porque ela faz bem pra todo mundo. Anota isso também.