domingo, 31 de maio de 2009

Raphael Cohen Nissan, de volta


Juro que estava com TPM hoje. Queria tomar cafeh com os meninos (H. e Y) que combinaram mas soh de' u pensar em subir e descer a ladeira de Katamon para chegar a Emek Efraim, surtei. Sim, meninos, avisei, melhor eu poupar voces. Eles respeitaram, eu tambem me respeitei pensando, pronto, estou bem mal humorada, tenho que me isolar na minha jaula, quando bateram na porta e eu pensei, oba, vou matar alguem...mas era, adivinha, o Raphael com suas malas vermelhas, seus cachos insubstituiveis e negro da praia de Copacabana com aquele seu sorriso dizendo: " Achou que eu nao ia voltar, ne?"
Pois fiquei tao feliz que um dos meus meninos, um dos meus filhotes adotivos daqui de Jerusalem, estava de volta que a TPM foi pro saco. Em meia hora estava gargalhando com as diabruras do Rapha no Brasil, tantas, que seu pai, um sujeito que me parece para lah de inteligente, avisou o Rapha que amanha ele embarcaria e que comecaria a faculdade aqui em Israel ainda essa semana. "Entao eu vim ne, manero, tudo bem..."
Agora o Rapha esta aqui, dormindo feito um anjo, depois de ter perdido o passaporte brasileiro e o passaporte israelense no aeroporto em Tel Aviv quando, segundo ele, colocava as malas no bagageiro do taxi, e, depois de ter  espirrado na saida do aviao o que quase deixou ele de quarentana no aeroporto mesmo: " Cara, tive que explicar que nao tinha gripe suina um tempao..."
Jantou uma coisa completamente Raphael: cinco salsichas, meio litro de coca cola, dois chocolates elite, e, azeitonas em lata, alem do hummus, "porra, que saudades de hummus...", dizia , enquanto eu me deliciava feliz com a cena de ver um dos meus filhotes  de volta para casa. 
Fumamos uma narguila ("po, ce nem fumou, o fumo ainda eh de quando eu tava aqui") e quando me dei conta o Rapha dormia e tossia tranquilo. Um moleque tostado do sol de Copacabana no lencol amarelo. 
Ah, a TPM. Que TPM? 


sexta-feira, 29 de maio de 2009

Katia Flavia


Tudo calmo por aqui. Mais uma festa Judaica, Shavuot. A cidade, que ja eh uma delicia, fica ainda mais. Nenhum carro pelas ruas. Talvez isso ajude a sensacao de muita paz, o silencio. E por falar em silencio: Comentei hoje com H. que, por vezes, minha brasilidade surge como um raio incontrolavel, e, lembro de coisas boas do fim do mundo, brasil: faz-me falta uma godiva do Iraja em Jerusalem com calcinhas belicas, calcinhas de morango, enfim, falta de algo que soh a turma da alegria poderia dizer: "ola, policia, eu to usando, calcinha..."

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Sobre Sabonetes

Fui procurar uma antiga cronica minha sobre o Arrabal e nao achei. Perdeu-se por ai como outras tantas coisas minhas. Uma pena mesmo porque nela havia mais detalhes. Tenho uma vaga lembranca dos acontecimentos e vou tentar reproduzi-los aqui.
Todas com o maluco do Arrabal. De quem sou fa, expectadora, leitora e amiga. A primeira foi sobre um cafe que ele insistia que devia me encontrar no supermercado da frente. Nao entre no cafe, me avisava, me espere na frente do supermercado. Assim que ele chegou foi logo me avisando: "sabe, na verdade, me disseram que o Cafe do McDonalds eh otimo, mas eu nao posso ir ao McDonalds, imagine o Arrabal no Mcdonalds, entao, vc vai me levar no Mcdonalds". Pois fomos e durante horas rimos sobre Teatro Espanhol, sobre Calderon de La Barca, Gracian e quando saimos, na Avenida Paulista, Arrabal finalizou o encontro: "puxa, nem parece que fomos ao McDonalds".
Na segunda vez, encontrei o Arrabal num velorio de uma linguista, a Rosana. Arrabal sentou do meu lado e me disse baixinho: "to aqui por obrigacao, mas nao conta para ninguem. Linguista, morre, oras. Vamos embora daqui, voce sai primeiro e eu vou atras. Faz de conta que chegamos juntos."
No terceiro e derradeiro encontro, nos esbarramos num farol, que abriu e fechou dez vezes enquanto ficamos naquela esquina. Voce estah escrevendo, me perguntou. Eu disse que sim. Sobre o que?  "sobre coisas que nao deveriam terminar nunca, que deveriam ser infinitas", respondi.
Explica melhor, depois a gente atravessa a rua. "Bem, Arrabal, estou escrevendo sobre sabonetes". Arrabal me olhou profundamente, me deu a mao, me atravessou na rua e uns meses depois havia um recado na minha secretaria eletronica: " coloquei sua fala numa personagem minha. Voce entende da vida. Sabonetes deveriam ser eternos."
Foi a ultima vez que ouvi sua voz grossa, embigodada, cheia de riso e aflicao.

Para Djabal, com carinho

Al Otro Lado del Río

Jorge Drexler


Clavo mi remo en el agua 
Llevo tu remo en el mío 
Creo que he visto una luz al otro lado del río

El día le irá pudiendo poco a poco al frío 
Creo que he visto una luz al otro lado del río

Sobre todo creo que no todo está perdido 
Tanta lágrima, tanta lágrima y yo, soy un vaso vacío

Oigo una voz que me llama casi un suspiro 
Rema, rema, rema-a Rema, rema, rema-a

En esta orilla del mundo lo que no es presa es baldío 
Creo que he visto una luz al otro lado del río

Yo muy serio voy remando muy adentro sonrío
Creo que he visto una luz al otro lado del río

Sobre todo creo que no todo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima y yo, soy un vaso vacío

Oigo una voz que me llama casi un suspiro
Rema, rema, rema-a Rema, rema, rema-a

Clavo mi remo en el agua 
Llevo tu remo en el mío
Creo que he visto una luz al otro lado del río

Sobre Pernilongos


Chamados iatush, iatushim em Hebraico. Chegaram junto com o verao e transformaram minhas noites num inferno coberto com o lencol. O Samir queria saber porque ao inves de reclamar eu nao comprava um repelente. Meu hebraico nao eh o suficiente para explicar para ele minha ideologia sobre os pernilongos . Eles sao imigrantes pensava eu. Nunca vi tao grandes e pernas tao longas. E sao meio boboes. Completamente boboes. As moscas tambem. Elas nao sao como as brasileiras que saem correndo antes que voce chegue perto. As daqui sao umas tontas. E entao, no ultimo mes adquiri o habito de mata-las, me divertindo, um prazer enorme, nunca consegui matar uma mosca antes e os pernilongos nem se comenta. Parece que esperam minhas havaianas. Eu estava sentindo um prazer enorme com tudo isso mas de noite, enquanto dormia, eles zombavam e se vingavam de mim. O Samir cansou de toda essa minha historia e deu ordem expressa para eu comprar o repelente: "Shlomit, vc nao tem que ficar subindo na cama de chinelo na mao, me explicou, tem repelente no supermercado"
Eu queria explicar para ele que tenho dificuldades, ainda, com o modo de vida Israelense, que na verdade eh super pratico: tudo, tudo que se vende, eh tamanho familia ou vende aos montes, como se fosse atacado. Nesse contexto, eh impossivel comprar 4 papeis higienicos, um saco de algodao, um pequeno shampoo, uma gilette ou um sabonete soh. Voce compra de batelada e a coisa dura quatro, cinco meses, ateh voce esquecer que elas existem. Na pratica eh muito melhor e a conta, diluindo, eh bem mais barata do que no Brasil. A dona de casa daqui nao precisa pensar na materia, nessas parcas coisas. Acabou? Compra-se para seis meses...todas as casas por conta disso possuem dispensa superlotada de esponjas, material de limpeza e essas coisas uteis que transformam a gente em miseros seres humanos.
E entao era essa minha historia com o repelente. Comprei repelente para 90 dias. Aparentemente, vencerei minha guerra com os pernilongos mais uma vez. Mas sem sujar minhas havaianas e paredes. Uma guerra fria. Sem sombra de Clarice Lispector que , acho eu, iria se sentir pesarosa com a crueldade e o prazer que sinto ao mata-los com as minhas proprias sandalias.

Postagem Aberta para Amilcar Torrao

Quinho,

Ontem eu peregrinava insana pela Cidade Velha pensando em voce. Pensava, exclusivamente, na impossibilidade da pureza de descricao de um lugar, pensava no quanto se narra a partir de si, do seu proprio referencial e o quanto isso me irritava profundamente, afinal,  se antes tinhamos, enquanto historiadores narradores, consciencia disso, agora ela se perdia definitivamente, e os narradores acreditavam efetivamente que a partir de si, o que descreviam, era a SUA verdade. Pois, andava eu irritada com isso, pensava que queria falar com voce, discutir isso com vc, ouvir a enciclopedia dalembertiana de voce, quando ouvi meu nome, um chamado dentro da irritacao da narracao das cidades. Era meu ex rabino.
Num sorriso bem judaico de quem ja antecipa, simpatico, a piada que la vem, ele me perguntou, : 'Como vai a Sua Jerusalem?'
Era a resposta que eu precisava para minha irritacao que terminou numa gargalhada minha, vai bem, vai bem, eu disse e a Sua Jerusalem como estah? ele respondeu, rindo, bem tambem. E nos despedimos, cada um andando pela sua Jerusalem, cientes disso.
Saudades.


domingo, 24 de maio de 2009

O Amor

(Gibran Kahlil Gibran)

Então, Almitra disse: “Fala-nos do amor.”
E ele ergueu a fronte e olhou para a multidão,
e um silêncio caiu sobre todos, e com uma voz forte, disse:

Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos
Como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma que o amor vos coroa,
Assim ele vos crucifica.
E da mesma forma que contribui para vosso crescimento,
Trabalha para vossa queda.
E da mesma forma que alcança vossa altura
E acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce até vossas raízes
E as sacode no seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma
No pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas, o amor operará em vós
Para que conheçais os segredos de vossos corações
E, com esse conhecimento,
Vos convertais no pão místico do banquete divino.
Todavia, se no vosso temor,
Procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez
E abandonásseis a eira do amor,
Para entrar num mundo sem estações,
Onde rireis, mas não todos os vossos risos,
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.
O amor nada dá senão de si próprio
E nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.
Porque o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga:
“Deus está no meu coração”,
Mas que diga antes:
"Eu estou no coração de Deus”.
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,
Pois o amor, se vos achar dignos,
Determinará ele próprio o vosso curso.
O amor não tem outro desejo
Senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos,
Sejam estes os vossos desejos:
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho
Que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado
E agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia
E meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado,
E nos lábios uma canção de bem-aventurança.

sábado, 23 de maio de 2009

O Amor nos tempos do Colera


 por aqui. Israel treme de medo e de raiva e isso eh muito previsivel. Mas que ideia a do Obama, essa, de colocar uma bandeira da Onu na Cidade Velha, a gente ja tem que  desviar de bandeira toda hora, a cidade eh uma bandeira previsivel. E forte. A forca da cidade nao vem dos efeitos. Vem da causa mesmo. Nao vem das bandeiras, vem das entranhas. Nunca vi tanto afeto e resistencia, tanta briga e amor. Nada pode destruir a saga dos habitantes, todos, que passam por aqui, turistas, imigrantes, arabes, judeus, cristaos. E todo mundo luta e todo mundo nao cansa de lutar. A ordem de todos os dias, essa, que vem das entranhas e pulsa, nao importa do que voce se arma, eh, nao desistir nunca. De nada. Nao importa. Seja de Jerusalem, seja da Palestina, seja de tentar vender uma mercadoria, seja de um encontro, nada eh impossivel, nao ha a hipotese de largar mao, tudo pode parecer fechado, mas a regra estah nas rosas enxertadas, brancas com pintas vermelhas, abra-se assim. Do contrario tudo parecera deserto. Mas nao eh. Temo apenas por aqueles que ainda nao conhecem o amor. Dormi ontem de luz acesa pensando no Roberto Ventura que correu atras da etmlogia da palavra Sertao. Dormi, pensando que devo dizer que a palavra Sertao eh uma corruptela de Desertao. Aqui, todos nos nos olhamos com olhos de profeta e sorrimos um para o outro. Nem sombra do raquitismo do litoral. Cabelos negros ao sol, mechas se misturam com grossas vozes e ambas riem ao largo. O palestino eh antes de tudo, um forte.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Never More: Myself


Pode ser demasiado simples para um desses Ezra Pound soltos por ai imaginar a seguinte imagem: uma floresta dividida. De um lado somente corvos pretos e seus guinchos atonais , seus saltos curtos e seu baixo voo. Do outro, aves coloridas, de todos os tamanhos, com seus cantos longos e trinados na linguagem dos passaros, voando graciosamente, emplumadas das mais diversas tonalidades de azul, beje, vermelho, amarelo, marrom. Para que lado voce iria se sua inclinacao maior fosse comemorar o dador alegre?

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Via Prazeirosa,


Jerusalem. Soh agora percebi, depois de oito meses de pernadas na Velha Cidade que a Via Dolorosa eh o lugar mais divertido de Jerusalem: os vendedores colocam cadeiras nas portas, falam com todos que passam, riem, gritam, fazem festa, jogam gamao, dormem, rezam, e tudo envolto numa alegria contagiante, nada que possa recordar o doloroso caminho de Yeshua Ben Miriam, vulgarmente conhecido como Jesus. Pois eh, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, como diria meu bom e velho Camoes.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

"Mamae me da essa lua...

ser esquecido e ignorado como esses nomes de rua..."

Versos do Mario de Andrade. Para que? Para vcs irem ateh o Blog do Andre de Leones daqui de Jerusa que estah sete ceus acima mais divertido que o meu:

http://rechavia.wordpress.com

obs: Andre tem a sabedoria de colocar como nome dos seus blogs os nomes da ruas em que mora. Super Lopez Chaves, supermarioandradino.

Jah volto. deixa eu me desenrolar de mim...;)

quinta-feira, 14 de maio de 2009

A Rosa Purpura de Jerusalem


O escritor Andre de Leones, enfim, aqui. Generosamente, quando chegamos do aeroporto, tao cansado ele estava, ainda me ofertou seu livro mais recente " Paz na Terra entre os Monstros". Quando comecei a ler, me dei conta, que o autor estava dormindo no chao do meu quarto. Foi a primeira vez que comecei a ler um livro como autor , vivo, ao res do meu chao...;)
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Sobre Fotografia

 

Eu nao gosto de misturar os meus blogs. Mas dessa vez me parece inevitavel. Fiz uma sessao de fotos de quase 4 horas com Ibrahim Abussinim, arabe cristao, morador da Cidade Velha. Outras fotos dele estao no Photo Jerusalem ( www.photojerusalem.blogspot.com) mas ja sao da Agencia Reuters que rapidamente ficou com elas. O que ocorreu eh que foram momentos intensos, pela Cidade Velha, em jerusalem, fotografando Ibrahim que numa disponibilidade amoravel, deixou-se e deixou-me completamente envolvida pela sua beleza. Basicamente, nao tem como nao flertar quando a vida se abre para o dispositivo fotografico. Nao ha como nao sentir amor. Nesses momentos, quando uma pessoa estah a sua disposicao, nessa entrega completa, nao tenho como nao pensar em Susan Sontag asseverando que igual a Brassai, Arbus queria  que seus modelos
estivessem  plenamente alertas, conscientes da acao que participavam, sendo que para persuadir as pessoas, a  fotógrafa Arbus, teve que ganhar a sua confianca, teve que travar amizade com elas.
Eh um fato que, para tanto, voce deve possuir uma inclinacao enorme para o outro alem de gostar de se aproximar de desconhecidos, como no meu caso, que faco fotografia de rua, e deixa-los se aproximar de voce. Sem isso nao ha fotografia consciente.
Voltando a citar Sontag: Brassai denunciou os fotógrafos que procuram surpreender os modelos com a erronea crenca de que se revelará algo especial (...) Nao eh um erro, na realidade. Ha algo no rosto das pessoas quando nao sabem que  estao sendo observadas que nunca aparece no caso contrario, pois suas expressoes sao privadas e nao as que apresentariam a camera se estivessem consciente"
A fotografia em que o fotografado estah consciente dela - que eu nomeio de fotografia Joao Cabral de Melo Neto - eh muito dificil, e por isso uma das melhores fotografias para se fazer. Esse instante fotografico prediz aproximacao entre os seres sendo que a maquina se esvai entre o fotografo e o fotografado. Eh um contato entre essencias e a maquina fotografica passa a ser um mero acidente nesse encontro que, ela, justamente, proporcionou (aitia), sendo que sua causa estah intrinsica no seu fim. Teleologia e, ao mesmo tempo,  aporia.


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domingo, 10 de maio de 2009

Marcelo Sizer no Brasil, ontem!


Olha ai, eh o meu Guri: Marcelo Sizer, na sua melhor performance depois que me abandonou em Jerusalem! To super orgulhosa, claro, vcs se lembram dele? Meu modelo preferido, sabia posar como ninguem!  A foto e a reportagem da Marcha da maconha  esta no G1: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1115306-5598,00.ht 

Porque nao me canso de mim

Mudanca do Brasil, setembro de 2008
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Pra Luciana



Fui, Sou, Serei, Sereia

(Recitativinho feito para minha filha Luciana, por volta das 5 horas da tarde no dia 4 de Junho de 1987.)

Instável.
Inquieta.
Versátil.
Vertigem.
Visões.
O amanhã é hoje.
Ontem o gato comeu.
Todas as estações do corpo místico. (Mais primavera, claro).
No mais, é consciência críticado mundo imundo, do belo mundo que nos circundacom incendios e atropelamentos na Avenida Paulista,
 nos Pinheiros escanhoadose na Te adoro, Sampaio Motorizada:
Quem é o Rei?
Quem é a Rainha?
No império do tempo sou estrela(e o brilho dela no espelho)
Acordo madrugadas e durmo metafísicas.
Meu labirinto tem todas as cores do arco-íris.
Fui. Sou. Serei. Sereia.

(Recitativinho feito para minha filha Luciana, por volta das 5 horas da tarde no dia 4 de Junho de 1987.)

Mauricio Loureiro Gama
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Porque me Comemoro

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Porque nunca desfiz de mim

Ultima pagina do "Livro do Guimel", Luciana gama, 1999

Pagina do meio de "Embalos na rede: balancos Frugais:, Luciana Gama, 1996

        


Luciana Gama em 'Meus Oito Anos', Fotohomenagem a Casemiro de Abreu em "Museu de Mim", livro escrito em 2001
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sábado, 9 de maio de 2009

Minha Historia


Susan Sontag dizia que Mallarme disse no fim do seculo XIX, que tudo existe para terminar em livro, mas que no seculo XXI, tudo existe para terminar em fotografia. beijos.

Kabalistas

Com kabbalah nao se brinca. Eu tenho a honra de ter amigos que estudam Kabalah e assim levam a vida, de segredo em segredo. Inclusive, passei meses participando de refeicoes no Shabat, principalmente a havdalah, cerimonia que separa o Shabat dos outros dias da semana, e essas pessoas deveriam saber o quanto aquelas refeicoes se tornariam importantes para mim no meu mundo vindouro, onde estou, Jerusalem. Eu apenas ia, via, comia. Eram lindas. Sempre sai correndo de onde estava apenas para chegar, todo Shabat, ali, naquela mesa com aquelas pessoas lindas, fortes, saudaveis que se entoavam em Hebraico, essa lingua estranha, e me aceitavam ali, como uma hospede bem vinda. Tambem tive a honra de passar o Shavuot passado com eles, sem dormir a noite inteira, ouvindo o Livro de Ruth e as discussoes que fariam qualquer alma dormente, acordar. As vesperas dos meus 43 anos, em pleno Omer, eh deles que me vem a lembranca confortavel de quem experimenta raridades na vida.
Mas, entre outras coisas, de segredo em segredo, kabalistas conversam com voce. Eu levei muita bronca, recebi muitos toques, e um deles, uma vez, - falavam pouco comigo, quase nada- me disse que eu participava, que eu era convidada porque um dia, eu nao estaria ali, estaria onde deveria estar, aqui. Mas que eu soh recordaria quando estivesse. Eis-me aqui, recordando.
Um deles, chamado Zuvh, Chazan, um homem que com sua estatura, gordura e kavana, sempre me deixou impressionada e ele sabia, sabia,  eu tinha medo dele. Zuvh olhava dentro da gente e dizia exatamente o que voce estava pensando. 
A ultima vez que o vi fiquei sem dormir. No dia seguinte, telefonei para ele e disse que nao havia pregado os olhos. Ele riu e desligou o telefone. Simples assim. Naquele dia anterior, logo apos a cerimonia da Havdala, Zuvh conversou duas horas comigo sobre martelos.
Durante toda a conversa eu apenas pensava que aquele homem era louco, que falava de martelos comigo e quando eu ja nao podia mais com aqueles martelos todos, ele se levantou enorme da cadeira e me disse: voce ainda vai se lembrar dessa conversa de martelos e dar muita risada, me levando para fora da sala, me colocando para fora da sala. De logico, que me pareceu completamente insensato naquele dia, Zuvh me disse que eu deveria olhar mais para os homens nao judeus. Eu fiquei revoltada, o que aquele Judeu religioso estava me dizendo? Diante da minha surpresa, ele completou: voce eh judia, voce eh mulher, dando de ombros com as maos.
Hoje, toda vez que o Samir me telefona e eu nao consigo ouvi-lo por causa do barulho dos martelos, ouco uma inaudivel melodia, grande, gorda, rindo como o Zuvh na minha frente, compartilhando o que nao existe: nem o antes, nem o agora, nem o depois.


A Manga do vestido de Noiva

Pronto. Agora jah posso. Eu ia sair para fotografar mas um gato sentou na minha janela recem aberta. Resolvi, por conta dele, ficar, fazer outro cafe e retomar para a minha cama com meus tres travesseiros primos. O gato ficou me olhando atraves do vidro. Pensei sim em dar leite para ele mas seria uma alianca para a vida toda. Gatos possuem uma maneira solida de fundamentar relacoes. Basta o branco no pires, o pires na janela, a janela para a rua.
Algumas fotos seriam p&b. Principalmente, antes da cerimonia. No casamento, eu estaria livre, a noiva, enquanto conversava comigo, estava por demais envolvida na sua vida e confiava nos profissionais que a acompanhariam. Durante o tempo que conversamos sobre o ensaio fotografico que faria com ela, antes, durante e depois da cerimonia, ficou estabelecido que as minhas fotos seriam mais artisticas, enquanto o fotografo principal cuidaria das exposicoes tradicionais e classicas. Eu, obviamente, que caso com todas as minhas fotos estava preocupada com o balanco do  branco do vestido da noiva. Seu vestido eh branco, perguntei, ela nem me ouviu. Me contou detalhes das rendas, dos brocados e dos docinhos, e do rabino, e  do convite, convivas, as noivas falam sem parar, pensei, e perguntei se podia fazer fotos dela se vestindo, do vestido ainda pendurado, vou te acompanhar, completei.
Adoro fotografar noivas. Eh uma maneira adentro da felicidade alheia, caminho raro que a fotografia permite. Meus casamentos, ou tentativas de, foram todos um fracasso. E eu acredito que foi justamente isso que me abriu o olhar para o instante da alegria . Fracassos refinam, Luiz, Eduardo, Alexandre, Douglas, Ricardo, Chico, Rui, Uri, Nando, sendo que a luz vem fielmente junto  das nossas bandidagens e bandagens.
A noiva me telefonou por esses dias dizendo que nao haveria mais casamento e disparou a contar, descontar. Durante toda conversa eu apenas refletia que deveria ser comigo, nao com ela. Eu tiraria essa historia de letra se o Samir me deixasse plantada na Cidade Velha. Sentaria com meus amigos daqui, faria um chororo de pao com hummus, eles diriam que me avisaram, eu diria que sabia e pronto, bola pra frente. Mas aquela noiva, como qualquer noiva, acreditava no casamento. Eu tambem penso, numa mistura atonita, que talvez tenha sido melhor assim. Mas, la pelas tantas ela me disse, ah, eu ia devolver o vestido mesmo, a manga nao ficou boa. Eu somente pisquei na demora de quem joga fotografia fora.
Condoer, doi.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

A manga do Vestido de Noiva

Eu tenho uma historia para contar.
mas preciso de um fole para esse sopro de vida.
Ja volto com meu folego.

twiter

Toda vez que como chocolate meio amargo eu penso profundamente no Twiter e nos 14o caracteres. Sim, eh uma delicia, vicia, mas toda vez que como meu chocolate eu penso que serio seria eu tuitar : "comendo chocolate meio amargo..."
A quem interessa se estou comendo chocolate meio amargo? Ou, fazendo outras pequenas coisas que sempre fiz e nunca liguei para ninguem para dizer?
O que ocorre eh que a brincadeira eh seria mesmo. O Twiter me dah a impressao, na maioria das vezes que eu, ou as pessoas que sigo, revelam que nunca sairam da fase oral. Penso que muito do sucesso e do vicio do Twiter deriva do fato de ser um dispositivo para se colocar o id com a sensacao de que, enfim, alguem se interessa pelo o que voce estah fazendo, e o que eh pior, pelo o que voce estah pensando. Eh realmente uma formula magica. Todo terapeuta dereria indicar o twiter para seus pacientes que nao sairam da fase infantil. Hoje em dia, gracas ao twiter, sei o que faz e o que pensam pessoas que nunca tive um convivio completo e na maioria das vezes, o que eu acho a maior graca, as pessoas enviam noticias como se ninguem lesse jornal, e sei praticamente tudo o que aquela minha conhecida de oi e tchau pensa ( praticamente nada), faz e ve na televisao.
Nada contra. Tenho pessoas legais no meu twiter. Mas que eu tenho vontade de pedir para as pessoas pararem de colocar os proprios bofes para fora do umbigo delas, ah, isso eu tenho...mas eh legal saber que estah chovendo, super bacana e original. Me lembra Quintiliano, quando da sua retorica, exemplificando a chuva como argumento para testemunho ocular. Sim, estou me referindo ao retor latino. Analise de discurso que seria chata no Twiter. Melhor saber que estah chovendo. Fato, do latim, factum. Aquilo que nao depende se voce esteve ou nao, viu ou nao. Choveu. E viva o Twiter!

obs: obviamente, eu me controlo horrores para nao desbundar no twiter. Uma pena esse meu controle. Tenho vontades incontrolaveis de escrever: " Dei muito" . " Gozei trez vezes" . " ih, dei o rabo, doeu"

bj. Me liga quando acordar!;)

Samyanalytics

Tenho escutado muito Chico Buarque ultimamente. Assim, por nada mesmo. Fiz o download de toda discografia do Chico, como tambem fiz  varias outras completas, mas sabe la porque, fui insistindo no Chico enquanto lavo a louca ( sim, tem uma louca na minha pia que surtou depois de perder o acesso aos cedilhas), enquanto tomo banho, enquanto o meu dia, nessa viagem a roda do meu quarto, vai margeando todos os meus enquantos. Sou mesmo uma pessoa de enquantos. Nao tem melhor tentativa de definicao para mim, por enquanto.
Intensamente, o que adjetiva meu comportamento normal por qualquer coisa que me agrade, passei a ouvir Chico o tempo todo. Foi assim com Joao. Esta sendo com Chico. Chico tem me apontado um frescor nas suas cancoes, uma leveza, e, sobretudo, uma forma tao menos grandiloquente de simplificar as coisas complicadas que passei a gostar do que ouco. Versos como "tem um olho que nao estah, meus olhares evita" , tem-me arrancado singelamente do chao. Assim como a cancao Renata Maria. Sao esses os meus pequenos menires.
Ancorei o paragrafo acima apenas para colocar uma pequena e talvez insignificante cancao do Chico, que me lembra muito o Samir quando ele nao estah aqui, junto comigo. Talvez pela simplicidade das coisas mais simples, como o amor, por exemplo:

"Eu não sabia explicar nós dois
Ela mais eu
Porque eu e ela
Não conhecia poemas
Nem muitas palavras belas
Mas ela foi me levando pela mão
Íamos todos os dois
Assim ao léo
Ríamos, choravamos sem razão
Hoje lembrando-me dela
Me vendo nos olhos dela
Sei que o que tinha de ser se deu
Porque era ela
Porque era eu"

( Chico Buarque In" Porque era ela, porque era eu". Carioca, Ao Vivo. )

terça-feira, 5 de maio de 2009

A Paixao Segundo H.


Almoco na nova casa Jerusalomita de H. Incrivel como H. sabe fazer qualquer lugar ficar confortavel, com jeito e cheiro de casa. Eh um dom. Eu tambem o tenho e por isso sei reconhece-lo em H.
H. ficou H. Nosso misterioso H. Muito, porque nao queremos dividi-lo, todo mundo quer H. Bastante, porque o que era uma protecao inicial, nao expor seu nome aqui, por motivos religiosos, acabou acabando e resolvemos manter H. como H.  assim mesmo, por puro divertimento.
H. fez um almoco incrivel onde tudo estava com gosto de H: o peru, a lentilha, o arroz e o chocolate suico. Os livros na estante tambem.
H. hoje resolveu todos meus pequenos problemas, aqueles, que nunca ninguem da importancia porque eles nao tem importancia nenhuma mesmo. Precisava de um protetor solar. H resolveu. Precisava -mas nao queria- comprar umas tranqueiras na farmacia. H. o fez. 
Me despedi de H. na calcada da rua  Ben Yehuda pensando que eu podia hoje estar, realmente, sem nada, coisa alguma, zerada. Nao eh verdade. Tenho tudo aqui. Mas caso eu nao tivesse eu estaria completamente lotada do amor do companheirismo das amigagens de H. 
Nao temos livros da Clarice Lispector aqui. Mas temos H. O que para mim talvez tenha uma igual significancia. Um mesmissimo conteudo vidente, vivente.



sábado, 2 de maio de 2009

Aqui mas La...


Ando bem sumida daqui do Acustico, eu sei. Acontece que sou supostamente desorganizada para o meu referencial de perfeicao. Nao consigo escrever quando fotografo e ha semanas incriveis que somente consigo fotografar. Como ha semanas otimas tambem que soh consigo escrever. Estou na fase da fotografia que basicamente consiste em muita coisa junta: paciencia, tecnica, olhar, just in time, sorte, observacao, estudo e muitas, muitas horas alem de pernadas sem fim. Fotografar demanda muito tempo. Tanto quanto escrever. Mas, efetivamente, nao consigo me dedicar as duas coisas, tudo- ao- mesmo- tempo- agora. Nas ultimas semanas minha presenca se faz em outro blog, tambem meu, e assinado pela Shlomit Or, tambem eu. Para quem nao sabe tenho dois nomes, um brasileiro e outro israelense. Os dois sao verdadeiros. A Shlomit Or eh a fotografa. Existe uma excelente fotografa brasileira, minha homonima, chamada Luciana Gama, e para que eu nao atrapalhasse a vida dela com as minhas parcas fotos, aproveitei meu nome israelense para assina-las. Foi assim que a Shlomit Or assumiu que era fotografa. Passa la: 

www.photojerusalem.blogspot.com