sábado, 18 de setembro de 2010
sábado, 21 de agosto de 2010
transjerusalém - são pulo, brasil (Gama, Luciana. "exéquias" In Os Macunaítas)
Para efeito epigráfico: epígrafe de epigrafe tudo é epígrafe
"Fatigado
Das minhas viagens pela terra
De camelo e táxi
Te procuro
Caminho de casa
Nas estrelas
Costas atmosféricas do Brasil
Costas sexuais
Para vos fornicar
Como um pai bigodudo de Portugal
Nos azuis do clina
Ao solem nostrum
Entre raios, tiros e jaboticabas."
(Oswald de Andrade In Serafim Ponte Grande: Fim de Serafim)
domingo, 1 de agosto de 2010
Trechos: Os Macunaítas de Luciana Gama
(Tudo bem. Você pede noticias devidas ao sumiço. Me cobra que devo satisfação aqui no blog, lá vai, se segura, malandro: Uma semana perdida fazendo as exéquias dos Macunaítas, cujos recortes, trechos -para usar palavra mais simpática- vão sair numa revista de literatura. Quando? não sei, aviso. Chancelaram, por fim, Os Macunaítas. Depois, mais dez dias em plena narrativa: não vi o tempo passar e nem as páginas crescerem. Somente ria e via ao meu redor um monte de santo: José Candido de Carvalho, Manuel Antonio de Almeida, Machado do Memórias Póstumas, e, Millôr de vez em quando. O capítulo II, "O Sequesttro da Sátira", é desenho com mínimos detalhes, croqui, tinta a óleo, moldura. Mando amostra grátis . beijo na familia, na Cecília e nas crianças, prá todo pessoal, adeus:)
"...Mário de Andrade também não era. O achamento de um povo que sempre se entranhou na veia da sua terra e se misturava impertinente também a sua biblioteca cerebral a partir daquele instante, o do descobrimento vital propriamente dito, levou-o a arrumar algumas poucas peças de roupa e abrir a mala poenta por cima da cadeira do quarto: dois ternos de casimira inglesa, o terceiro, de linho branco s120, iria no corpo assim como o chapéu de aba larga para o forte sol de Araraquara que levaria enterrado na cabeça; camisas de manga, quatro, papel, loção francesa Revê Rose para passar na calvície, caneta e tinteiro, pó-de-arroz- poderia ser útil em algum evento social à noite- e os lenços caprichosamente bordados com suas iniciais, MA, por tia Nhanhã, misturados a três sambas-canção e ceroulas, poderiam ser úteis mesmo no calor, o pijama de listras largas com botões grandes, o robê de seda, chinelos e meias: Mário não andava descalço. Livro nenhum entrou na mala de organizada angustia, somente os fichamentos das ultimas leituras que vinha fazendo. Não eram poucos: os do cinco volumes de Von Roraima Zun Orinoco ocupava o equivalente a um par dos sapatos sob medida da Sapataria Guarani, a mais cara de São Paulo, sempre no modelo escocês furadinho de bico afinado.(...)" (Gama, Luciana. Os Macunaítas, In: cap II, O Sequestro da Sátira ou O Rapto dos Macunaítas ou O Nome da Palmeira)
(...)De vez em quando, era notório, Mário gargalhava refestelado e esquecido da sua gravidade de maneiras e lotava o ambiente chacoalhando risonho todo seu corpo alto, magro, enorme; mesmo assim, era riso que em nada lembrava a sonora gargalhada dos índios Umutina quando o Padre Salesiano Nicolau Badariotti, às vezes, assentado sobre uma pedra ou sobre algum tronco de madeira rodeado de trinta ou quarenta índios contava coisas da Europa procurando explicar-lhes por meio de imagens. Os índios Umutina imaginavam que o Brasil fosse todo o mundo; admiravam-se pois ouvindo o padre dizer que além do grande rio (oceano) existia a Europa dividida em muitos países de línguas diferentes, etc; o cúmulo de admiração era significado por sonora gargalhada, então. Essa gargalhada, a mesma de Oswald, jamais seria a de Mário."
(Gama, Luciana. Os Macunaítas, In: cap II, O Sequestro da Sátira ou O Rapto dos Macunaítas ou O Nome da Palmeira)
(...) Mário voltou para casa puto, atordoado, mais atordoado do que puto, varou o resto da noite, madrugada adentro, retirando e abrindo livros da sua biblioteca, nenhum, nenhum, nenhum, nenhum, nada sobre macunaítas, esses macunaítas não existem, concluía Mário, exausto, lá pelas sete e meia da manhã, agora muito puto, pressentindo que caíra numa piada invenção de Oswaldo que levou toda sua noite. Acordou tarde, meio dia, desperto pela conversa entre sua mãe e tia Nhanhã, uma ladainha sussurrada que chegava até seus aposentos e desceu as escadas, sonolento, no robe de seda, que interromperam a conversa com sorrisos de senta aqui, meu filho, vamos preparar seu desjejum. Pouco importava para elas, mãe e tia, tão bom era aquele filho sobrinho, suas peregrinações dentro da noite veloz e tampouco se acordava tarde ou cedo tamanha a dedicação que Mário, sujeito pacato e estudioso desde menino, pena que não continuou sua dedicação à igreja, começou tão menino, coroinha exemplar, pensavam em conjunto mas jamais comentavam entre si que Mário, depois de dezessete mais ou menos, nunca mais as acompanhou à missa, pouco importava, nosso menino, agora moço, continuava exemplar, cuidadoso, cada dia mais refinado, discreto, estudioso , caseiro e tímido, o que era a mais pura verdade: pouco importava para a mãe, para a tia, para o irmão, para os moços de então que se sonhavam futuros escritores e poetas que escreviam cartas que Mário respondia com dedicação e ardor, como Carlos e Fernando, pouco importava para amigos mais íntimos como Manuel e Rosário Fusco, ou para aqueles alegres rapazes de Clima, ou mesmo para as viúvas de Mário, como ficaram conhecidas à boca miúda as cuidadoras oficiais do seu espólio intelectual no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo incentivadas por aqueles mesmos alegres moços de Clima, agora homens feitos, pouco importava que nosso menino não casou, que nosso menino gostava de meninos e meninas e bananeiras e galinhas e uma vez, uma mula, arre, tão pouco importava que esse pedaço da história não foi importado mas deliberadamente ocultado aqui, ajustado ali, será o benedito, importava mesmo que nosso menino, naquele dia, sentado no sofá, cruzando as pernas do robe de seda sulferino escuro que deixava uma listra larga da perna direita do pijama de fora, enquanto a mãe e a tia preparavam o café gostoso, o café bom, o café preto que nem a preta velha, haveria de numa pulsão nunca cometida por ele antes, nem mesmo em Há uma Gota de Sangue em cada Poema ou na torrente de inspiração lírica que o acometeu em Paulicéia Desvairada, haveria de no dia seguinte, de noite, já em Araraquara e poucadissímo esquecido da raiva que Oswald o havia feito passar, ora bolas, uma noite toda procurando em sua vasta biblioteca por um povo que jamais existiu, começar, deitado na rede, o que viria a ser também em seis dias, o seu gênese, o nosso antigo testamento, o livro que o tornaria Deus: Macunaíma, o Herói sem nenhum caráter. (...) (Gama, Luciana. Os Macunaítas, In: cap II, O Sequestro da Sátira ou O Rapto dos Macunaítas ou O Nome da Palmeira)
quarta-feira, 21 de julho de 2010
sábado, 17 de julho de 2010
Senhores tão bonitos quanto a cara de seus filhos
Ha Palmach Street, Jerusalém Shlomit Or Gama © 2010 All rights reserved
Dia redondo, hoje. Não bastasse a beleza dos dias de verão aqui em Jerusalém, amenizados pelo ventos que chegam da Judéia, a luz intensa do sol apontava na janela da sala lá pelas sete e meia de uma manhã escancarada com a chegada radiante do sorriso de Janaína, passando pelo portão, com bagagem de mão rosa, encardida de pó da estrada, ônibus, passeios e calçadas. Atrás de Janaína, um sorriso de pai, luminoso. Michel Rosenthal Wagner, enfim chegava, com seu livro na mala e sua filha pela mão. Eu os esperava com bolo de cenoura integral e calda de chocolate. Pai e filha encontraram-se no aeroporto em Tel Aviv. Michel vindo de Málaga onde foi visitar seu pai, Janaina por sua vez já estava em Israel e havia percorrido o país inteiro com o Taglit. Jerusalém, anota: um bom lugar para encontros.
Mala de escritores são fascinantes porque a primeira coisa que sai delas é livro. Foi assim que Michel me mostrou orgulhoso a publicação do seu: A árvore onde meu Pai catava Nozes. Sim, o livro é caprichosamente editado pela Sefer editora. A narrativa, como sabemos, magnífica porque é fruto de uma viagem, melhor, de um mergulho de Michel nos lugares onde seu pai e avós passaram a infância no Leste Europeu. No entanto, naquele momento, entre malas, café e bolo de cenoura, Michel me mostrava a capa, orgulhoso, porque a foto espetacular da nogueira em frente à sinagoga e na frente do livro, a árvore da infância do seu pai, era da Janaína, que por sua vez, sorria mais radiante ainda, revelada fotógrafa para mim Eu estava, portanto, diante do pai de Janaina que era pai do livro sobre seu pai. Sorri com a compreensão que só os olhos conseguem expressar quando se apertam.
Em algum momento da manhã, na rua Ben Yehudá, no centro de Jerusalém, vi Michel olhando Janaína olhar o que ela olhava pela rua enquanto estava uns passos a nossa frente. Este é um momento único. Eu tenho três filhos. Poder encontrar com cada um é tão especial, confabulou emocionado. Filhos, livros e árvores: amor; palavras que iam e vinham no ônibus, enquanto as ovelhas, cabras e os pastores da estrada da Judéia me enterneciam na paisagem montanhosa e redonda da janela.
Já em casa, entre um copo de água e outro, vi o José Ruy Gandra no facebook, com foto de perfil de lua crescente. Vamos lá seu Zé, quero ser sua amiga, reencontrá-lo. Em poucos minutos conversávamos. Dali, papo em dia, fui ler as colunas do José Ruy. Meus olhos se apertaram de novo, agora marejados, não da orla da Judéia, coisa comumente de tão bela, mas dos textos do Ruy sobre Pedro e Paulo, seus filhos, com direito a galhos de jaboticabeiras, almoços árabes, situações inusitadas. O Zé possui duas colunas onde nos dá o luxo e a honra de compartilhar seu amor, seus filhos e o amor ao seus filhos, chamadas Coração de Pai e Pátrio Poder : http://gandraedit.com.br/revistas/
Hoje foi um dia perfeito do pai dos outros nos outros: na Janaína, na nogueira, na jabuticabeira, no Pedro, no Paulo, na pretinha, nos livros, nos textos, dentro e fora porque o dentro só vale fora, o fora só vale dentro: se diz por aqui que a gente sabe quando uma benção é uma benção porque ela faz bem pra todo mundo. Anota isso também.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
segunda-feira, 5 de julho de 2010
domingo, 27 de junho de 2010
Saramago e anti semitismo
Estou, enfim, lendo Caim. Ontem dormi na página vinte. É claro que estou gostando. Posso me dar ao luxo de dizer que sou leitora de Saramago. Alguns de seus livros li e reli até a exaustão, até poder citar cenas sem a menor parcimônia como se uma passagem de Saramago ou estar em Tatuí fosse a mesmíssima coisa. Evitei Caim até onde consegui. Saramago é um escritor que influência na minha escrita narrativa: volvo e revolvo a língua portuguesa com Saramago. Um amigo me escreveu, tão logo Saramago passou a não respirar, que o Alcir Pécora disse numa entrevista que Saramago não era tudo isso. Não sei se é verdade, não escutei e esse meu amigo me garante que o Alcir Pécora não gosta dele, amigo. Eu morro de inveja do Alcir Pécora. Eu tenho uma lista de pessoas que me dizem: o Alcir Pécora não gosta de mim. Todos escritores. Dessa lista eu já briguei e já fiz as pazes com pelo menos a metade deles. Briguei de brigar mesmo, de virar a cara, de aprontar. Alguns não me perdoaram; de outros, recebi abono. Troco cinco James Joyce por uma boa briga e ainda de quebra lanço uma Pedra do Reino quando a pessoa vira de costas, indo-se. Adoro livros e tijolos e tenho preferência por livros deste formato. O Alcir Pécora é uma flor de criatura perto de mim. Nunca ouvi dizer que ele é briguento, que não é flor que se cheire ou que é grosseiro. Queria eu que as pessoas dissessem em chororô: a luciana gama não gosta de mim. Mas a luciana gama praticamente não existe e o alcir pécora é um fato. Talvez entre eu e ele possamos ponderar a diferença entre a expressão galinho de briga e briga de galo. Eu cego prá valer. Brigo com todo escritor vampiro que se aproxima de mim. Eles costumam vagar pela noite, em bares específicos, sugando histórias dos simples mortais que tomam cervejas e no dia seguinte seguirão anõnimos como personagens de escritura. Quero deixar bem claro que conversas que eu posso ouvir em mesas de bar com pessoas interessantes dentro não me servem como representação literária já que para tanto basta ir ao bar da esquina. Eu gosto de ler. Passar frases inteiras do bar da esquina para o papel não é literatura, é vampirismo. Também não suporto leitores que não vão ao bar da esquina mas ficam em casa lendo essa literatura que seu medo do mundo alimenta como literatura. Sim, eu sou brutalmente criteriosa e rachei de rir com a declaração do Pécora sobre Saramago. Mesmo que não seja verdade do meu amigo, eu gostei da história, porque ela cabe na boca do Pécora, esse cordeiro na pele de lobo. Samarago era tudo isso sim senhor. Concordo que Ensaio sobre a Cegueira é uma bosta e aqueles diários de Lanzarote de fechar-se na página um mas o que ninguém disse ainda é que Saramago pulou Vieira no jogo céu inferno da literatura dele. Rendeu-se à Camões, mil vezes ao Fernando, mas conseguiu o feito extraordinário de saltar por cima do Padre imperador da Lingua Portuguesa. Talvez, o Pécora saiba disso, assim como eu sei porque sou leitora voraz de Saramago. Vieira deve ter sido a Clarice Lispector de Saramago, ou seja, aquele escritor que quando a gente lê se questiona dolosaramente se não se está tudo alí, não havendo necessidade de dizer o que dito, às claras, já está. Obviamente que estou me referindo aos contorcionismos miraculosos da língua portuguesa em Vieira. Eu também fico atéia de palavra quando visito Vieira, esse fazedor de sombras em nosso português a haver.
Saramago era amargurado, enjoava nas curvas de sintra e sentia o fígado aos ver pasteis de santa clara, por certo: era escritor, conhecia a vida por obrigação de vivê-la, não sendo fugitivo que se esconde em livros ou mesa de bares. Eu conheci Saramago, eu sei. Levando-se em conta que sou possuídora de talento raríssimo para desnortear pessoas sobre o que eu realmente vivenciei e o que foi vivenciado por mim realmente, suponhamos que eu tenha conhecido Saramago durante sete segundos e duzentas e oitenta nove páginas de livro, coisa que assim se deu: cheguei em Portugal, vinda de navio, nas comemorações do terceiro centenário do Padre Antonio Vieira. Todo mundo sabia disso, menos eu. Só me dei conta porque fui parar numa missa, no bairro alto, para o padre. Não era missa, era congresso. Mas era missa. E fui porque tinha salgadinho. Nessa época eu acreditava que bolinhos de bacalhau originais e tradicionais não eram os feitos na Lisboa Ocidental vulgo bar do mané portuga na esquina da cardeal Arco verde com a Fradique Coutinho em São Paulo. Dali da missa, do bairro alto, da rua do alecrim, até me sentir sardinha enlatada num comboio barco no tejo para Almada, entrei no meu quarto e dei para ler Saramago durante oito dias consecutivos. assim que cheguei no que será então minha casa portuguesa havia dois Saramagos na estante da sala. Almocei e jantei História do Cerco de Lisboa mas o outro a minha espera não me moveu dali: passei mais quatro dias trancafiada saboreando o Evangelho Segundo JC. Sim, era minha forma de absorver Portugal com a missa bolinho frio de bacalhau sem gosto mas com Vieira. No domingo, logo pela manhã, não havia mais Saramagos na estante para mim e fui dar uma volta. Entrei num taxi. Me leve para qualquer lugar, não conheço nenhum. O motorista achou por bem me levar para Cascais, cassinos, taximetro e tal. Mas no primeiro farol fechado emparelhamos Saramago e eu, carro a carro. Gritei de dentro: Saramago! o escritor assustado, assustou. Dei acenos e sorrisos. Ele se refez do susto e acenou numa primeira engatada. Só nos reencontrariamos de novo no Memorial do Convento mas essa é outra história. Eu gostei daquilo, daquilo de assustar o escritor que me assustava, bu Saramago, tô te lendo, caderno rosa purpura de Cascais.
Mas chegamos onde eu não queria: onde eu acho que devo me posturar: eu confesso que sempre achei que Saramago estava gagá quando fez declarações sobre Israel, país que em dá guarida, casa, comida e namorado. Então, nunca dei muita atenção ao fato. Em todas as livrarias por aqui há Saramagos em inglês, em Hebraico para todos os lados, todos os títulos. Que as declarações tivessem vindo do senso comum, eu até compreenderia, mas não vindo de um intelectual. Israel hoje pode ter um governo que eu e mais uma tonelada de gente aqui não concorda mas isso não significa que Israel não tenha uma bela formação sindicalista, democrática que permite que o sistema funcione confortavelmente para seus cidadãos: estou falando de bens comuns como saúde e educação em fases de governos que eu discordo como esse de Netaniahu, por exemplo. O fato desse governo israelense de direita não estar nesse momento construindo uma história que a meu ver não é dignificante não apaga a história de Israel com seus sindicalistas, politicos, sionistas que construiram o país que eu habito hoje e muitos palestinos também. E palestinos sorriem nas ruas aqui, trabalham, dividimos os mesmos ônibus, as mesmas filas e são alegres e falam alto como os israelenses. Na prática do mercado da Cidade Velha, tirando os religiosos com suas fardas, não se sabe quem é palestino quem é israelense. Eu namoro um palestino e tenho amigos aqui religiosos, ateus, israelenses e árabes, eu sei do que estou falando, da vida viva em Jerusalém, da vida que acontece fora dos extremismos dos jornais que circulam pelo mundo. Infelizmente, lendo as primeiras páginas de Caim tive a certeza de que Saramago, nas declarações sobre Israel, não estava gagá. Velhinho gagá não escreve Caim. Que belo livro. Quarta feira eu vou fotografar Amos Oz. Amos Oz, esse escritor fabuloso, comentou as declarações de Saramago: "Esta é hoje a comparação preferida dos antisemitas em todo mundo. Saramago demonstrou uma cegueira moral incrível. Como integrante da esquerda, como alguém que luta pelo direito do povo palestino a um Estado independente junto a Israel, vejo as declarações de Saramago como um golpe na cara as vítimas dos nazitas, dos pacifistas em Israel e toda a humanidade”. Ademais - para usar uma palavra pecoriana- Saramago deveria, ao menos, alguma espécie de gratidão ao povo que inventou a personagem principal do seu derradeiro livro. Convenhamos assim.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
trecho
aspas são raspas de texto. tacho. acho. não gosto de quem junta dedos aspas ou parenteses no ar médio e anular. não posso. não deixo. me afasto, quero outra coisa: nuvem, papel, pedra. gosto do gosto da escrita escrita, colher na panela de brigadeiro. escrever é somente. aspas falam demais: madeleines, brevidades das citações, torrada com geléia, chá das três marias: aspas são visitas, não lavam a louça da escritura, pia até a boca, etiqueta no pote de vidro, dossiê de alcaparras, vodca, sonho de valsa. aspas são falsas, telefonema injusto, desde(se)nham reticências, o sono das Preguiças do Brasil. aspas são ossários com nada dentro, noves fora, primas entre si, onânicas com ânsia de nanicas: minha terra tem exílios.
(Gama, Luciana. In Os Macunaítas: Exéquias.)
(Gama, Luciana. In Os Macunaítas: Exéquias.)
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