sábado, 9 de maio de 2009

A Manga do vestido de Noiva

Pronto. Agora jah posso. Eu ia sair para fotografar mas um gato sentou na minha janela recem aberta. Resolvi, por conta dele, ficar, fazer outro cafe e retomar para a minha cama com meus tres travesseiros primos. O gato ficou me olhando atraves do vidro. Pensei sim em dar leite para ele mas seria uma alianca para a vida toda. Gatos possuem uma maneira solida de fundamentar relacoes. Basta o branco no pires, o pires na janela, a janela para a rua.
Algumas fotos seriam p&b. Principalmente, antes da cerimonia. No casamento, eu estaria livre, a noiva, enquanto conversava comigo, estava por demais envolvida na sua vida e confiava nos profissionais que a acompanhariam. Durante o tempo que conversamos sobre o ensaio fotografico que faria com ela, antes, durante e depois da cerimonia, ficou estabelecido que as minhas fotos seriam mais artisticas, enquanto o fotografo principal cuidaria das exposicoes tradicionais e classicas. Eu, obviamente, que caso com todas as minhas fotos estava preocupada com o balanco do  branco do vestido da noiva. Seu vestido eh branco, perguntei, ela nem me ouviu. Me contou detalhes das rendas, dos brocados e dos docinhos, e do rabino, e  do convite, convivas, as noivas falam sem parar, pensei, e perguntei se podia fazer fotos dela se vestindo, do vestido ainda pendurado, vou te acompanhar, completei.
Adoro fotografar noivas. Eh uma maneira adentro da felicidade alheia, caminho raro que a fotografia permite. Meus casamentos, ou tentativas de, foram todos um fracasso. E eu acredito que foi justamente isso que me abriu o olhar para o instante da alegria . Fracassos refinam, Luiz, Eduardo, Alexandre, Douglas, Ricardo, Chico, Rui, Uri, Nando, sendo que a luz vem fielmente junto  das nossas bandidagens e bandagens.
A noiva me telefonou por esses dias dizendo que nao haveria mais casamento e disparou a contar, descontar. Durante toda conversa eu apenas refletia que deveria ser comigo, nao com ela. Eu tiraria essa historia de letra se o Samir me deixasse plantada na Cidade Velha. Sentaria com meus amigos daqui, faria um chororo de pao com hummus, eles diriam que me avisaram, eu diria que sabia e pronto, bola pra frente. Mas aquela noiva, como qualquer noiva, acreditava no casamento. Eu tambem penso, numa mistura atonita, que talvez tenha sido melhor assim. Mas, la pelas tantas ela me disse, ah, eu ia devolver o vestido mesmo, a manga nao ficou boa. Eu somente pisquei na demora de quem joga fotografia fora.
Condoer, doi.

Um comentário:

Amilcar disse...

Isso mais que um post merece um conto. Deveria começar com essa frase definitiva: Condoer dói. Sempre achei isso, mas nunca tive coragem de dizer, achava que ela seria insuportável para as pessoas. Mas condoer dói demais.