sábado, 9 de maio de 2009

Kabalistas

Com kabbalah nao se brinca. Eu tenho a honra de ter amigos que estudam Kabalah e assim levam a vida, de segredo em segredo. Inclusive, passei meses participando de refeicoes no Shabat, principalmente a havdalah, cerimonia que separa o Shabat dos outros dias da semana, e essas pessoas deveriam saber o quanto aquelas refeicoes se tornariam importantes para mim no meu mundo vindouro, onde estou, Jerusalem. Eu apenas ia, via, comia. Eram lindas. Sempre sai correndo de onde estava apenas para chegar, todo Shabat, ali, naquela mesa com aquelas pessoas lindas, fortes, saudaveis que se entoavam em Hebraico, essa lingua estranha, e me aceitavam ali, como uma hospede bem vinda. Tambem tive a honra de passar o Shavuot passado com eles, sem dormir a noite inteira, ouvindo o Livro de Ruth e as discussoes que fariam qualquer alma dormente, acordar. As vesperas dos meus 43 anos, em pleno Omer, eh deles que me vem a lembranca confortavel de quem experimenta raridades na vida.
Mas, entre outras coisas, de segredo em segredo, kabalistas conversam com voce. Eu levei muita bronca, recebi muitos toques, e um deles, uma vez, - falavam pouco comigo, quase nada- me disse que eu participava, que eu era convidada porque um dia, eu nao estaria ali, estaria onde deveria estar, aqui. Mas que eu soh recordaria quando estivesse. Eis-me aqui, recordando.
Um deles, chamado Zuvh, Chazan, um homem que com sua estatura, gordura e kavana, sempre me deixou impressionada e ele sabia, sabia,  eu tinha medo dele. Zuvh olhava dentro da gente e dizia exatamente o que voce estava pensando. 
A ultima vez que o vi fiquei sem dormir. No dia seguinte, telefonei para ele e disse que nao havia pregado os olhos. Ele riu e desligou o telefone. Simples assim. Naquele dia anterior, logo apos a cerimonia da Havdala, Zuvh conversou duas horas comigo sobre martelos.
Durante toda a conversa eu apenas pensava que aquele homem era louco, que falava de martelos comigo e quando eu ja nao podia mais com aqueles martelos todos, ele se levantou enorme da cadeira e me disse: voce ainda vai se lembrar dessa conversa de martelos e dar muita risada, me levando para fora da sala, me colocando para fora da sala. De logico, que me pareceu completamente insensato naquele dia, Zuvh me disse que eu deveria olhar mais para os homens nao judeus. Eu fiquei revoltada, o que aquele Judeu religioso estava me dizendo? Diante da minha surpresa, ele completou: voce eh judia, voce eh mulher, dando de ombros com as maos.
Hoje, toda vez que o Samir me telefona e eu nao consigo ouvi-lo por causa do barulho dos martelos, ouco uma inaudivel melodia, grande, gorda, rindo como o Zuvh na minha frente, compartilhando o que nao existe: nem o antes, nem o agora, nem o depois.


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