segunda-feira, 25 de maio de 2009

Sobre Sabonetes

Fui procurar uma antiga cronica minha sobre o Arrabal e nao achei. Perdeu-se por ai como outras tantas coisas minhas. Uma pena mesmo porque nela havia mais detalhes. Tenho uma vaga lembranca dos acontecimentos e vou tentar reproduzi-los aqui.
Todas com o maluco do Arrabal. De quem sou fa, expectadora, leitora e amiga. A primeira foi sobre um cafe que ele insistia que devia me encontrar no supermercado da frente. Nao entre no cafe, me avisava, me espere na frente do supermercado. Assim que ele chegou foi logo me avisando: "sabe, na verdade, me disseram que o Cafe do McDonalds eh otimo, mas eu nao posso ir ao McDonalds, imagine o Arrabal no Mcdonalds, entao, vc vai me levar no Mcdonalds". Pois fomos e durante horas rimos sobre Teatro Espanhol, sobre Calderon de La Barca, Gracian e quando saimos, na Avenida Paulista, Arrabal finalizou o encontro: "puxa, nem parece que fomos ao McDonalds".
Na segunda vez, encontrei o Arrabal num velorio de uma linguista, a Rosana. Arrabal sentou do meu lado e me disse baixinho: "to aqui por obrigacao, mas nao conta para ninguem. Linguista, morre, oras. Vamos embora daqui, voce sai primeiro e eu vou atras. Faz de conta que chegamos juntos."
No terceiro e derradeiro encontro, nos esbarramos num farol, que abriu e fechou dez vezes enquanto ficamos naquela esquina. Voce estah escrevendo, me perguntou. Eu disse que sim. Sobre o que?  "sobre coisas que nao deveriam terminar nunca, que deveriam ser infinitas", respondi.
Explica melhor, depois a gente atravessa a rua. "Bem, Arrabal, estou escrevendo sobre sabonetes". Arrabal me olhou profundamente, me deu a mao, me atravessou na rua e uns meses depois havia um recado na minha secretaria eletronica: " coloquei sua fala numa personagem minha. Voce entende da vida. Sabonetes deveriam ser eternos."
Foi a ultima vez que ouvi sua voz grossa, embigodada, cheia de riso e aflicao.

3 comentários:

Unknown disse...

Acabo de ler uma biografia de Miguel de Cervantes dele. Fántastica. Desde a maneira de escrever, ao conteúdo.
Escreve loucamente. Tenho a impressão que escreveu segundo o espírito da época e acrescentou imagens modernas, moderníssimas. Ficou uma coisa genial.
Talvez seja uma impressão muito apressada, desconheço outras obras dele, talvez porque terminei ontem, mas fiquei com Dom Miguel guardado na memória.

kahmei disse...

Obrigada!
fico feliz por agradar

falando de agrados
adorei seu texto

Abraços!
=)

Ricardo e Regina Calmon disse...

Ler Arrabal é ao profundo submergir
amei oráculo seu,de textos lindos recheados,entre poesia e a vida viver!

Viva a Vida!